Andréa Beltrão usa roupas e joias de Hebe Camargo para dar vida à diva da TV no cinema

Está tudo registrado em cerca de 3 mil reportagens e em vídeos na internet. À frente de um dos programas mais populares da TV, Hebe Camargo (1929-2012) defendeu o casamento entre pessoas do mesmo sexo quando o assunto era tabu. Também levou a modelo transexual Roberta Close à frente das câmeras na Bandeirantes. Já no SBT, debateu com especialistas a ação do AZT, uma droga pioneira no tratamento da Aids. Criticou políticos desonestos e, ao mesmo tempo, apoiou Paulo Maluf (preso recentemente sob acusação de corrupção) e depois se declarou arrependida. Também advogou pela emancipação das mulheres, mas se prendeu por anos a uma relação abusiva.

Todas essas contradições estão no filme “Hebe — A estrela do Brasil”, que estreia nesta quinta-feira (26). O longa, entretanto, foca nos anos 1980. Carolina Kotscho, roteirista, foi responsável pela escolha dessa perspectiva da vida de Hebe:

A doença atual é achar que todo mundo cabe numa caixinha. E a Hebe é a prova de que isso apequena o mundo. Ela fez campanha para o Maluf, sim. Mas também se emocionou ao entrevistar Dilma Rousseff. Essas contradições são o que a tornam humana.

Sob a direção de Maurício Farias, Andréa Beltrão interpreta a comunicadora. É quase uma releitura da mulher que era chamada de “Rainha da TV Brasileira”, já que a atriz recorre apenas a uma pesada tintura para imitar os cabelos da loura platinada, além dos vestidos exuberantes que Hebe usava para apresentar os programas — grande parte deles original. Para fazer o sotaque paulistano que trazia resquícios de uma vivência na interiorana Taubaté, Andrea pesquisou por dois anos, observando gestos e olhares em suas entrevistas no famoso sofá.

— Por ter visto horas de imagens dela, me apropriei de coisas que não chamaram a atenção da Carol nem do Maurício. Esses detalhes são os que mais me dão prazer de ver na tela — diz a atriz.

A atriz usou uma medalha de Nossa Senhora, que era de Hebe, durante as filmagens. Segundo Claudio Pessutti, sobrinho da apresentadora — no filme, interpretado por Danton Mello — o objeto foi comprado pela tia na Espanha.

— Quando fomos fazer as provas de figurinos, o figurinista Antônio Medeiros me deu uma capa. Quando botei a mão no bolso, senti algo frio. Era a medalha. Não foi por acaso que aquilo apareceu — diz Andréa.