Saída de membros afeta negócios e popularidade de grupos de k-pop

Em outubro, fãs de k-pop passaram por três golpes seguidos com a saída de três integrantes de grupos diferentes. Hwall, do The Boyz, saiu da banda alegando motivos de saúde. O jovem já não havia participado do último álbum dos meninos, lançado em agosto.

Menos de uma semana depois, Woojin, do Stray Kids, deixou o grupo alegando motivos pessoais. Ele não divulgou nenhuma carta na despedida, mas fãs disseram que ele deixou uma mensagem em um grupo exclusivo de admiradores dele em uma rede social coreana. O líder do grupo, Bang Chan, postou uma carta para os fãs pedindo desculpas por não ter conseguido manter o grupo com nove membros.

Três dias depois, veio a notícia de que Wonho, do Monsta X, também havia deixado o grupo depois de uma polêmica o envolvendo. O membro foi acusado de dever dinheiro para um ator e boatos diziam que ele havia sido preso quando jovem. Em uma carta pesada, ele pede desculpas aos membros e fãs pelas polêmicas e pela saída.

Nunca antes o k-pop passou por tantas saídas repentinas e tão perto umas das outras. Geralmente, os artistas deixam de renovar o contrato exclusivo com as empresas na época de renegociação e saem da companhia. Em outros, eles são expulsos caso não cumpram algum acordo pré-estabelecido.

Fim do contrato exclusivo

Nas três saídas, os membros encerraram o contrato exclusivo com as empresas e não fazem mais parte do quadro de artistas. No caso de Wonho, a página do cantor ainda aparecia no site japonês da Starship, empresa responsável pelo Monsta X, mas ela foi deletada duas semanas depois.

Depois dos anúncios, fãs subiram tags no Twitter agradecendo pela contribuição de cada integrante para os grupos, mas os monbebes, fãs do Monsta X, seguem em uma luta diária com tags exigindo o retorno do membro, e asseguram que não vão desistir enquanto a empresa não reverter a decisão da saída de Wonho.

Para o jornalista especialista em k-pop Jeff Benjamin, da Billboard, o momento de agora é uma fase de teste para saber se o movimento dos fãs pode ou não reverter a decisão das empresas.

“Se isso acontecesse há dois anos atrás, não teria nenhuma esperança [de que os membros voltassem]”, diz. “A Coreia do Sul é a casa e é de onde essas companhias operam, mas fãs internacionais têm mais voz do que nós percebemos”.

A movimentação dos fãs fora da Coreia já gerou algumas mudanças em decisões tomadas pelas empresas antes.

No ano passado, quando HyunA e E’Dawn, agora conhecido por Dawn, anunciaram o relacionamento de anos, a CUBE, empresa que cuidava dos artistas, revelou que eles foram expulsos. Depois de protestos de fãs, principalmente fora da Coreia da Sul, eles mudaram a nota e disseram que estavam negociando com os dois artistas.

Impactos nos negócios

A saída de um membro pode afetar negativamente a imagem e a popularidade de um grupo. Enquanto fãs podem deixar de apoiar e acompanhar a banda caso seu membro preferido saia, empresas também podem deixar de fechar negócios com os membros restantes.

“Fica um espaço vazio estranho. Grupos de k-pop são meio construídos, então você vai se tornar fã do grupo. Mas todo mundo tem seu membro preferido, ou bias, como ele é chamado”, explica Benjamin. “Isso definitivamente vai afetar o grupo e a popularidade, o que ele representa”.

No k-pop, os grupos trabalham as apresentações e vídeos pensando em dar destaque para todos os integrantes. Nos shows, lugar em que este membro deveria estar pode ficar vazio ou deixar uma sensação de incompletude nos fãs.

Nos negócios, patrocinadores podem deixar de trabalhar com algum grupo por causa de polêmicas, novas parcerias podem não ir para frente e marcas podem não querer a imagem vinculada a alguém por algum tempo.

“É preciso lembrar que a Coreia é a base de operações, e se patrocinadores e pessoas na indústria não querem mais trabalhar com algum grupo por causa de uma saída, isso não é bom para os negócios. Por bem ou por mal, a indústria do k-pop é um negócio e eles precisam considerar um grande esquema de fatores”, diz Benjamin.

Outras vezes, a saída tem um efeito diferente nos fãs, que podem ouvir ainda mais as músicas do grupo e impulsionar as vendas, como aconteceu com o Monsta X. No caso do Stray Kids, fãs se mobilizaram após a saída de Woojin para votarem em premiações sul-coreanas, garantindo a liderança do grupo.

‘Eles são pessoas’

Mesmo com as cartas dos membros e o posicionamento das empresas, fãs querem entender o que aconteceu para ocasionar a saída, as negociações entre cantores e companhia e conseguir respostas, ainda que isso seja improvável.

“O kpop não permite que os artistas mostrem o que está acontecendo internamente. Eu acho que várias vezes é esperado que eles coloquem uma feição feliz, foquem no trabalho, continuem sendo muito profissionais e não falem sobre o que está acontecendo”, diz Benjamin.

Mas, mesmo com esse cuidado e controle sobre como essas narrativas são contadas, fãs percebem mudanças nos grupos. “Nós conseguimos ver o que está acontecendo com os artistas. Obviamente eles são humanos, obviamente eles são pessoas, eles têm sentimentos”, conta Benjamin.

O que os fãs podem fazer?

Em todas as cartas, tanto membros como empresas pedem que os fãs continuem apoiando os grupos. E, para Benjamin, é exatamente isso que os fãs podem fazer.

“É preciso lembrar que isso é um negócio. Se você quer que o seu grupo se sinta apoiado, literalmente, continue apoiando. Se você quer que eles continuem do jeito que eles são, assista os vídeos, compre os álbuns, mande mensagens e interaja pelas redes sociais”, analisa.

Os fãs também podem manter a lembrança positiva dos membros que saíram, sem deixar que eles caiam no esquecimento ou que sua marca e legado sejam esquecidos.

“Os fãs podem garantir que as boas lembranças sejam guardadas, as imagens fofas, os vídeos felizes…. garantir que a saída de um membro não foi em vão ou que isso necessariamente arruíne a vida desses artistas”, conclui.

Fonte: R7