Transcrição confirma que Trump pediu à Ucrânia para investigar Biden

A Casa Branca divulgou nesta quarta-feira (25) a transcrição de uma ligação telefônica de Donald Trump, confirmando que o presidente americano pediu ao colega ucraniano que investigasse seu adversário político Joe Biden.

Hoje, o presidente Trump insistiu em que “não teve pressão alguma” sobre a Ucrânia, em declarações aos jornalistas em meio à Assembleia Geral das Nações Unidas, um dia depois de os democratas iniciarem um processo de impeachment.

“Foi uma carta amistosa, não houve pressão”, repetiu Trump, denunciando o que chamou de “a maior caça às bruxas na história dos Estados Unidos”.

Segundo a transcrição do telefonema de 25 de julho, Trump pediu a Volodimir Zelenski “para olhar” indícios de corrupção por parte de Hunter Biden, um dos filhos de Joe Biden. Hunter trabalhou para um grupo de gás ucraniano pertencente a um oligarca pró-russo de reputação duvidosa.

“Há muita conversa sobre o filho de Biden, que Biden impediu a investigação, e muita gente quer saber sobre isso”, diz Trump ao presidente Volodymyr Zelensky na ligação de 25 de julho.

“Biden se gabava de ter parado a investigação, então se você pudesse olhar isso”, acrescentou.

Como vice-presidente de Barack Obama, Joe Biden e outros líderes ocidentais pressionaram a Ucrânia a se livrar do principal procurador do país, Viktor Shokin, porque ele era visto como não suficientemente duro para com a corrupção.

Na ligação, Trump propõe a seu colega ucraniano que trabalhe na cooperação com seu advogado, Rudy Giuliani, “um homem muito respeitado” e com o procurador geral dos Estados Unidos, Bill Barr. Acrescenta que os dois advogados entrariam em contato com ele em breve.

Hunter Biden, cujo pai é um dos favoritos nas primárias democratas para 2020, foi membro, de 2014 a 2019, do comitê de monitoramento do grupo de gás ucraniano Burisma.

Minimizando o episódio, Trump disse que os democratas quiseram apresentar a ligação como “uma chamada do inferno”, mas que “se mostrou uma chamada de nada”.

“Parte do problema que você tem é que você tem as ‘fake news’. Tem muita informação corrompida”, denunciou, referindo-se “à maior caça às bruxas na história americana”.

Para o senador republicano Mitt Romney, o resumo do telefonema é “profundamente problemático”.

“Isso continua sendo profundamento problemático. Vamos ver aonde isso leva. Mas a primeira reação é preocupante”, avaliou Romney, candidato à Presidência em 2012 e um dos poucos republicanos a manifestar preocupação com o incidente.

Ele não quis comentar, porém, se a transcrição tem evidências de que Trump tentou condicionar a oferta de ajuda militar à abertura, por parte da Ucrânia, de uma investigação anticorrupção do filho de Biden.

Romney afirmou, porém, que “claramente se houve uma situação, isso levaria tudo para um nível mais extremo”.

– Presidente ucraniano reage

“Apenas meu filho pode fazer com que eu ceda”, responde com humor o presidente e ex-ator ucraniano Volodymyr Zelensky a respeito das acusações contra Trump, de que teria tentado utilizar Kiev para prejudicar um potencial rival democrata.

“Ninguém pode me pressionar. Sou o presidente de um país independente”, declarou Zelensky a um canal russo durante sua estada em Nova York.

“A única pessoa que pode me pressionar é meu filho de seis anos”, insistiu, acrescentando que se reunirá com o presidente Trump pela primeira vez nesta quarta-feira, à margem da Assembleia Geral da ONU.

Os democratas americanos iniciaram na terça-feira um procedimento de destituição contra o republicano.

Dada a maioria democrata nesta Câmara, é provável que Trump seja acusado, o que aconteceu com apenas dois de seus antecessores: os democratas Andrew Johnson, em 1868; e Bill Clinton, denunciado por “perjúrio” em 1998, por seu caso com a então estagiária da Casa Branca, Monica Lewinsky.

Com uma maioria republicana ainda leal a Trump, o Senado faria o julgamento político contra o presidente e votaria em sua destituição, ou não. Os democratas precisariam convencer 20 senadores republicanos, o que parece muito pouco provável nesta etapa.

Este processo também pode se voltar contra os democratas. Na terça, Donald Trump disse que uma acusação teria um efeito “positivo” em sua campanha.

Foi essa possibilidade que levou a presidente da Câmara de Representantes, a democrata Nancy Pelosi, a evitar durante tanto tempo seguir por esse caminho.

Fonte: IstoÉ