Militar se rende após manter mulher e filhos reféns por quase 14 horas

O tenente-coronel do Exército que mantinha a mulher, Luciana Arminda, e os dois filhos gêmeos de 11 anos reféns no apartamento da família, em Cascadura, se entregou, após quase 14 horas. O porta-voz da Polícia Militar, coronel Mauro Fliess, informou que ele foi levado para a 29ª DP (Madureira). O processo de negociação foi tenso, segundo Fliess. Equipes de médicos, psicólogos e policiais treinados em negociações de conflitos participaram da negociação, assim como equipes do Exército, à paisana. A rua foi tomada por policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope), do Batalhão de Ações com Cães (BAC) e atiradores de elite. O tenente-coronel André Luiz seria integrante do Serviço de Inteligência do Exército.

O Batalhão de Operações Policiais Especiais assumiu a ocorrência na noite desta terça-feira. Fliess explicou que todos os protocolos foram seguidos e os reféns ficaram “sob controle, na medida do possível”. Fliess explicou que as negociações envolveram tempo. O casal mora no Residencial Califórnia Park, na Rua Cerqueira Daltro.

Segundo Fliess, o militar mostrou descontrole diante de um problema familiar:

– É tenente-coronel da ativa do Exército Brasileiro. Ele demonstrou um descontrole diante de um problema familiar. É uma questão pessoal dele, que será abordada pelo Exército.

Em nota, o Comando Militar do Leste informou que transmitiu à Políicia dados que pudessem ser úteis ao processo de negociação. Após ele se entregar, a mulher e os filhos receberam atendimento de profissionais de saúde e estão na companhia de parentes próximos. Depois de prestar depoimento, o militar será encaminhado ao Hospital do Exército, permanecendo preso à disposição do Poder Judiciário.

O fornecimento de energia elétrica para o apartamento da família foi interrompido por medida de segurança. A Rua Cerqueira Daltro foi interditada ao trânsito de veículos. Uma faixa foi colocada em frente ao Largo do Cascadura, que fica diante do condomínio. A calçada em frente ao prédio foi bloqueada.

Pouco antes das 7h desta quarta, um casal entrou no prédio após conversar com policiais. Durante a madrugada desta quarta-feira, uma psicóloga e uma major da PM também participaram da negociação. Uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi deslocada para o local.

Um vizinho que preferiu não se identificar disse que, horas antes da movimentação dos policiais no local, a mulher gritava por ajuda enquanto era agredida.

— Ele sacou uma arma e ameaçou a mulher e os filhos. Ele já tem histórico aqui no prédio de brigar com a esposa. Vizinhos já o viram agredindo a mulher — disse.

Outra testemunha contou que, ao ouvir os gritos, por volta das 20h, moradores procuraram a portaria do prédio, que acionou a polícia.

— Ela começou a gritar. Depois disso, uma vizinha ligou para a portaria, que acionou a polícia — contou o homem, que também não quis se identificar.

Vizinho de andar da família, o estudante de Farmácia Carlos Orlando Malheiros, de 33 anos, ficou assustado:

– A gente não tem muito contato, embora moremos no mesmo andar do prédio. É uma coisa que a gente nunca imagina que vá acontecer. A gente acha que está seguro. Mas nem dentro de casa – afirmou. Ele acrescentou que ninguém pôde usar o corredor do andar e só o elevador de serviço foi liberado.

Ameaças há pelo menos um ano

A professora Cintia da Costa, amiga de Luciana, disse que o militar ameaçava a mulher há pelo menos um ano.

— Ela tem muito medo dele. Luciana já vinha reclamando que ele já brigava com ela há muito tempo. Ele era truculento. Ameaçava. Não a deixava sair sozinha com os dois filhos, apenas com um deles, para evitar que ela fugisse de casa. Ele era um lobo na pele de um cordeiro — contou Cintia.

Cintia disse ainda que Luciana, que é professora de educação especial em uma escola do município em Piedade, também na Zona Norte, é uma pessoa muito alegre mas estava “perdendo a felicidade”.

— Eu disse várias vezes para ela o denunciar, mas ela tinha medo. Ela já tentou buscar ajuda, mas foi avisada que não iria adiantar denunciá-lo.

De acordo com o cunhado de Luciana, a professora chegou a denunciar André para a Delegacia da Mulher, mas não se separou por medo.

— Luciana tem muito medo dele. Já chegou a denunciá-lo, mas a delegada orientou a não tomar nenhuma providência até o processo ser consolidado. Ela não pediu a separação por temer o marido.

Leia a íntegra da nota do CML:

“Na madrugada desta quarta-feira, 15 de maio, um oficial do Exército Brasileiro, motivado por razões ainda não esclarecidas, manteve esposa e filhos presos em sua própria residência, na Zona Norte do Rio de Janeiro. A Polícia Militar foi acionada por vizinhos e, uma vez no local, iniciou as negociações. Por volta das 10h, após a aplicação dos protocolos de negociação ao longo de toda a noite, o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) logrou êxito em convencer o militar a se entregar pacificamente.

O Exército acompanhou as negociações no local, transmitindo aos policiais informações e dados pessoais que pudessem ser úteis ao processo de negociação. Após o militar se entregar, a esposa e os filhos passaram imediatamente aos cuidados de profissionais de saúde, e já estão na companhia de parentes próximos.

O militar foi inicialmente conduzido para a Delegacia Policial da área e, após as formalidades legais, será encaminhado ao Hospital do Exército, permanecendo preso à disposição do Poder Judiciário.

O Exército Brasileiro solidariza-se com os familiares envolvidos nesse traumático episódio, e prestará toda a assistência médica, psicológica e espiritual requerida para a desejada superação. Por oportuno, o Comando Militar do Leste cumprimenta os profissionais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro que conduziram as negociações, reconhecendo e agradecendo a sua competência profissional no cumprimento de tão sensível missão.”

Fonte: Extra