Adolescentes cogitam abandonar o ensino médio com a pandemia

Danielle Teixeira tem 15 anos e pensa em abandonar o 1º ano do ensino médio. Ela estuda em uma escola pública estadual de Itabirito (MG). Nos últimos meses, vieram a ansiedade, a depressão e as dificuldades financeiras. “Parece que tudo foi desfeito, estou confusa, talvez eu desista e vá trabalhar.”

Desde março, quando o colégio foi fechado por causa da pandemia, Danielle lida com preocupações na família. A mãe teve problemas de saúde, foi afastada do trabalho e ainda não recebeu o auxílio-doença do INSS. “Meu pai não consegue pagar todas as contas sozinho. Pensei na possibilidade de ser lojista ou de trabalhar com culinária. A situação financeira me pressiona muito”, diz.

A suspensão das atividades presenciais, que completa 6 meses na maior parte do país, e a crise econômica trazidas pela Covid-19 podem agravar um problema já observado: a evasão escolar. Tecnicamente, ela ocorre quando um estudante abandona as aulas e não retorna no ano letivo seguinte. A taxa tende a crescer em 2021 na visão de especialistas.

Uma das razões é a quebra de vínculo entre alunos e escola. O colégio de Danielle, por exemplo, não disponibilizou aulas on-line durante a pandemia, apenas apostilas de exercício. Ela sequer conhece seus professores. “Eles estavam em greve no início do ano, então não tenho o contato direto de nenhum deles. A coordenação passou um e-mail para tirarmos as dúvidas da matéria, mas ninguém responde”, afirma Danielle.

“Por mais que eu pesquise sozinha, não consigo, só vejo os exercícios se acumulando. Aí, a gente acaba desistindo.

Entre os jovens brasileiros de 15 a 17 anos, cerca de 30% deles não estão matriculados no ensino médio (20% deles seguem ainda no ensino fundamental e 10% já estão fora da escola), segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2019, feita pelo IBGE.

O levantamento mostrou também que 48,8% dos brasileiros com mais de 25 anos não concluíram o ensino médio. O principal motivo para a evasão escolar, apontado por 39,1% deles, foi a necessidade de trabalhar.

“Quando um jovem se afasta da escola, é muito difícil que retorne depois. Ele pode encontrar um ‘bico’ e ganhar seu dinheiro”, explica Marlova Noleto, diretora e representante da Unesco no Brasil.

“Há os jovens que sentem a necessidade de buscar o próprio sustento, os que já têm filhos e precisam bancá-los, e os que têm de ajudar os pais em casa”, afirma Noleto.

E quanto mais anos passados, mais dificuldades para a volta. “Se um aluno decidir retornar aos 18 anos, mas encontrar colegas de 15, não vai se inserir na turma. É um contexto totalmente favorável para afastá-lo de novo dos estudos”, diz Inês Kisil Miskalo, gerente executiva de articulação do Instituto Ayrton Senna.

Outras possíveis causas da evasão escolar na pandemia são:

  • aumento de casos de ansiedade e depressão;
  • maior exposição à violência doméstica;
  • incidência de gravidez na adolescência.

Fonte: G1