Norte, parte do Nordeste e Centro-Oeste tem menos leitos para enfrentar a pandemia, diz estudo

O Norte, o interior do Nordeste e o norte do Centro-Oeste são as regiões mais desassistidas em leitos de Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) do Brasil – antes e durante a pandemia. A análise foi feita por pesquisadores e leva em conta dados oficiais e a incidência da Covid-19.

O estudo é uma parceria entre a Universidade Duke, nos Estados Unidos, com a Universidade Estadual de Maringá e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A equipe fez uma pesquisa transversal, que é basicamente um desenho, uma foto de um determinado problema. Nesse caso, analisaram a infraestrutura de saúde no país e relacionaram com o enfrentamento à pandemia pelo Sars Cov-2.

Foram utilizados dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do monitoramento de Covid-19 do Ministério da Saúde. Para traçar um parâmetro e entender se uma determinada região estava ou não bem abastecida, os pesquisadores usaram os critérios da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“Usamos a Anvisa porque as referências mundiais são internacionalizadas, ou seja, uma referência da Organização Mundial da Saúde tenta abordar os padrões de saúde da Nigéria até o Reino Unido. Se a gente for aplicar o modelo da OMS pareceria que o Brasil estaria muito bem, mas não necessariamente. Escolhemos o nosso próprio padrão de referência”, explicou o pesquisador João Ricardo Nickenig Vissoci, que assina o estudo pela Universidade Duke.

Situação das UTIs em fevereiro

Esta primeira análise de dados mostra uma “fotografia” com os dados de como era a situação do Brasil e de seus leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em fevereiro de 2020. Para conseguir traçar uma referência, os cientistas usaram o seguinte critério: nesta região, os pacientes têm acesso a um leito a uma distância que demore menos de 2 horas de deslocamento?

 Brasil de fevereiro, como mostra o gráfico acima feito pelos cientistas, mostrava uma situação histórica onde a região Norte, Nordeste e parte do Centro-Oeste apresentam uma deficiência de UTIs para atendimento. De acordo com Vissoci, o debate é antigo e não é exclusivo aos leitos. Nestes locais temos menos médicos, equipamentos, e infraestrutura de saúde em geral.

“É um problema que a gente tenta reportar há muito tempo, a gente tem muitos estudos sobre isso, sobre a deficiência de atendimento no interior do país, no Norte e no Nordeste”.

O pesquisador explica que o critério de ter um leito a 2 horas de onde está a população foi adotado também para evitar uma distorção nos números, já que de fato o Norte tem uma população menor do que o resto do país.

“É o problema real do acesso. Nessas regiões as pessoas precisam viajar 8 horas para chegar ao hospital. Usamos um método que leva em conta a taxa de oferta de acordo com a demanda populacional”, explicou o autor.

Chegada da Covid-19

A chegada da pandemia ao Brasil passou a exigir com urgência a criação de novos leitos para atendimento de pacientes com a Covid-19. O governo federal, estados e municípios fizeram investimentos. O próximo mapa mostra quais regiões foram mais privilegiadas.

“Temos áreas de calor e de frio para os novos leitos de UTI criados a partir de fevereiro. O Norte foi a região menos favorecida para receber novos leitos desde o início, independente de como a pandemia tem avançado na região. Assim como o interior do Nordeste e o norte do Centro-Oeste”, disse Vissoci.

O avanço do Sars CoV-2 cresce nas cidades menores. Um outro estudo, feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), aponta que um aumento de 50% no número de casos em cidades com até 50 mil habitantes. Elas são, de acordo com Vissoci e sua equipe, as regiões menos equipadas e favorecidas – justamente em um período de pandemia em que há necessidade de redução do deslocamento.

Os cientistas que assinam o artigo, ainda em análise para publicação em revistas científicas, dizem que o estudo tem deficiências. A primeira delas é que os dados disponíveis e abertos pelo governo muitas vezes não são atualizados com uma frequência que está de acordo com a realidade em tempo real. A defesa é que “são os melhores dados que temos no Brasil atualmente”.

Além disso, a contagem de novos leitos foi feita até abril. O mês de maio com as novas UTIs e respiradores implementados pelo governo não estão incluídos.

Fonte: G1