No Piauí, municípios que mais geram riqueza são onde se investe menos

As séries positivas do PIB ao longo dos anos não foram suficientes para alavancar os investimentos necessários em infraestrutura e melhorar os serviços à população da região Sul do Piauí, mas precisamente a região dos cerrados. Pelo menos três pesquisas oficiais recentemente divulgadas confirmam esta realidade. Os maiores PIBs  entre as 224 cidades do Piauí estão nos centros urbanos e das cidades do cerrado.

Os dados são do PIB dos municípios, divulgados pela Fundação Cepro e do Índice Firjan de autonomia dos municípios de 2018. E nacionalmente o Piauí se destacou com um volume do PIB superior a média nacional graças ao setor do agronegócio que registrou crescimento de 211%.

São cidades como Uruçuí, que está em 5º lugar no PIB piauiense e que é a única, além da capital, que possui autonomia financeira, graças ao agronegócio, sofrem com falta de estradas, falta de saúde e outros serviços. Problemas que são agravados pela falta de investimentos do poder público.

Uruçuí, Baixa Grande do Ribeiro, Bom Jesus, Ribeiro Gonçalves, Santa Filomena e outras cidades da região do Cerrado do Piauí tem em comum o desenvolvimento do agronegócio elevando o PIB da região e a menor participação da administração pública. Também são da região 4 dos 10 municípios responsáveis por 62,2% da riqueza gerado no Piauí (o dado foi divulgado recentemente pela Fundação Cepro). São eles Floriano, Uruçuí, Bom Jesus e Baixa Grande do Ribeiro.
Falta de infraestrutura atrapalha o agronegócio e o cidadão

O município de maior PIB per capita do Estado, em 2017, foi Baixa Grande do Ribeiro (R$ 65.454,41), sendo o valor 4,6 vezes maior do que o PIB per capita estadual (R$ 14.089,78). Entre os dez maiores PIBs per capita em 2017, oito tinham como principal atividade a Agropecuária – Baixa Grande do Ribeiro, Uruçuí, Guadalupe, Ribeiro Gonçalves, Bom Jesus, Santa Filomena, Currais e Sebastião Leal – todos na região do cerrado. A soja e o milho foram a principal cultura agrícola nesses municípios, exceto para Guadalupe, onde a exploração concentrou-se na fruticultura.

Mesmo assim, a população da região acompanha o crescimento das cidades, do comércio e a geração de empregos através do impulso dado pela agricultura, sem que a atenção e de investimentos público em saúde, educação, estradas e energia tenha a mesma proporção.

O empresário Manoel Salvador Sousa Leite, que tem comércio em Ribeiro Gonçalves e Baixa Grande do Ribeiro descreve a situação na região e principalmente os problemas causados pela falta de estradas. Trabalhando com revenda de peças automotivas ele conhece a realidade do encarecimento do frete e dificuldades que a população enfrente.  

“As estradas são muito ruins. Entre Uruçuí e Ribeiro Gonçalves vira muito carro. Atrapalha muito o desenvolvimento da cidade. A consequência mesmo, por exemplo,  chego a vender nove moles só pra um caminhoneiro e eles falam que é impossível continuar a trabalhar porque o dinheiro vai somente para as peças, encarece tudo”, afirma o empresário que é natural de Uruçuí.  

Ele conta outra dificuldade como, por exemplo, a falta de uma agência bancária em Baixa Grande do Ribeiro. Segundo ele só há correspondentes bancários e a população apela para a cidade de Ribeiro Gonçalves. “A moeda nossa aqui na da região é o grão, a gente não planta, mas depende do grão. Oitenta por cento do povo aqui é empregado nas fazendas se o produtor não vai bem a gente perde também”, acrescenta.

Custo piauiense de produção é maior por falta de estradas

A falta de condições de infraestrutura é um drama antigo do Cerrado do Piauí. Por conta dele o agricultor piauiense tem um custo de produção maior que o de outras regiões, em função do custo com transporte (insumos e grãos) ser de 20 a 40% maior (dependendo da localização da fazenda e da qualidade do acesso) que de outras regiões produtoras também de milho e soja.  

 “Entre os vários gargalos nós temos a falta de estradas que possam melhorar o escoamento desta produção, mas não é só para a produção. Essa falta também afeta diretamente o cidadão que não é do agronegócio, um efeito direto disto é que tudo chega mais caro, isso encarece o seu custo de vida, então a melhoria não é só paro o produtor rural”, reflete o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Piauí (Aprosoja), Alzir Neto. Segundo o presidente da Aprosoja hoje o custo médio de produção da soja, por hectare no Piauí,  é de R$ 3.100.