PF faz operação para investigar denúncia de vacinação ilegal de empresários

A Polícia Federal (PF) faz, na manhã desta sexta-feira (26), buscas em endereços ligados à Viação Saritur, em Belo Horizonte. A corporação investiga se empresários do setor do transporte foram vacinados ilegalmente contra a Covid-19. 

Antes das 6h, policiais saíram da sede da PF, na Região Oeste de Belo Horizonte. Um dos locais em que os policiais cumprem mandados é uma garagem no bairro Caiçara, na Região Noroeste da capital. O endereço é onde teria ocorrido a vacinação. Imagens internas de segurança serão recolhidas para tentar comprovar o episódio.

A Operação Camarote objetiva apurar a suposta importação e administração irregular de vacinas. A suspeita é de que houve importação irregular de doses da Pfizer e receptação, segundo a PF.

Ao todo, quatro mandados de busca e apreensão foram expedido pela 35ª Vara Federal Criminal de Belo Horizonte para que sejam recolhidas provas relativas ao caso.

A PF investiga se houve importação de mercadoria proibida, caso a eventual importação das doses tenha ocorrido antes a aprovação da lei que trata sobre a compra de vacinas por pessoas jurídicas, de descaminho, caso tenha sido após aprovação da lei, ou ainda se houve falsificação ou adulteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais, caso o episódio tenha ocorrido antes do registro da vacina da Pfizer na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Também é apurada suspeita de receptação pelas pessoas que receberam a vacina.

Denúncia

A informação sobre a vacinação dos empresários foi publicada na edição on-line da revista Piauí. O Ministério Público Federal (MPF) também investiga a denúncia.

De acordo com a reportagem, um grupo de políticos e empresários, a maioria ligada ao setor de transporte de Minas Gerais, e seus familiares, teriam tomado a primeira das duas doses da vacina contra Covid. 

A reportagem diz que eles teriam comprado o imunizante por iniciativa própria –cometendo duas irregularidades: fazendo a aquisição e vacinação antes que os 77 milhões de brasileiros dos grupos prioritários tenham sido vacinados, e sem a doação de metade das vacinas adquiridas ao SUS, como prevê a lei.

Ainda segundo a reportagem, cada vacina custou R$ 600 e a segunda dose está prevista para ser aplicada nas cerca de 50 pessoas daqui a 30 dias. A revista afirma ainda que a vacina aplicada seria da Pfizer. A Pfizer negou a venda de vacinas fora do Programa Nacional de Imunização (PNI). 

Entre os vacinados, segundo a Piauí, estaria o ex-senador e ex-presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Clésio Andrade.

À revista Piauí, Andrade afirmou: “Estou com 69 anos, minha vacinação [pelo SUS] seria na semana que vem, eu nem precisava, mas tomei. Fui convidado, foi gratuito para mim”. Questionado pela TV Globo, o ex-senador não confirmou a declaração. 

E, de acordo com a Piauí, os organizadores da vacinação foram os donos da viação Saritur. Um deles, Rubens Lessa, é presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano. Por mensagem ao G1, ele se limitou a dizer: “Tenho conhecimento deste assunto”. 

Segundo a publicação, outro vacinado seria o deputado estadual Alencar da Silveira Júnior (PDT). Ele negou que tenha participado. 

TV Globo confirmou que houve uma movimentação anormal em uma das garagens de ônibus da Viação Saritur na última terça-feira. Um movimento que chamou a atenção dos vizinhos. 

“Minha amiga me chamou perguntando se estava tendo vacinação noturna, drive-thru, e eu falei com ela que não, que não tem vacinação à noite, que o posto só funciona até 19h e a vacinação é até as 15h30. Ela falou, ‘Não, então tem alguma coisa errada, vem cá para você ver’, disse uma mulher, que preferiu não se identificar.

Um vídeo mostra a fila de veículos no estacionamento. Em uma das vagas, uma pessoa com jaleco branco retira algo do porta malas. Ela dá a volta e para em frente ao motorista e faz um movimento parecido com o que seria a aplicação de uma vacina. 

O local que aparece nos vídeos é uma das garagens da Viação Saritur, na Região Noroeste de Belo Horizonte, e teria sido improvisado como posto de vacinação. 

Um boletim de ocorrência foi registrado no dia da suposta vacinação. De acordo com o documento, os seguranças disseram aos policiais que houve uma pequena reunião dos diretores da empresa, mas que todos já haviam deixado o local quando os policiais chegaram. Na saída, os policiais foram abordados por um morador que confirmou ter visto no pátio da empresa aproximadamente 25 veículos com seus condutores e passageiros, sendo vacinados por uma mulher de jaleco branco. E que crianças também foram vacinadas. Os policiais entraram na empresa, mas nada foi constatado pelas equipes. 

De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), caso a vacinação seja confirmada, os envolvidos poderão responder pelo crime de contrabando, descaminho e de uso e importação de medicamento farmacêutico sem registro. 

O imunizante Comirnaty ainda não está disponível em território brasileiro. A Pfizer e a Biontech fecharam um acordo com o Ministério da Saúde contemplando o fornecimento de 100 milhões de doses da vacina contra a Covid-19 ao longo de 2021. 

Fiscalização

A Guarda Municipal de Belo Horizonte disse em nota que foi acionada na terça-feira, mas ao chegar na garagem onde estaria acontecendo a imunização, a Polícia Militar já havia chegado no local. 

“Os militares relataram que estavam apurando a mesma denúncia, recebida via 190. Os guardas e policiais entraram na garagem e não havia mais nenhuma movimentação. Por isso a PM registrou a ocorrência e ficou responsável por conduzir o caso”, disse. 

A Polícia Militar disse que “procedeu ao registro do evento de defesa social, REDS, e direcionou à polícia judiciária para providências subsequentes”. 

A Polícia Civil informou que “está verificando a eventual existência de crime, cuja investigação possa ser de sua competência legal”. 

O empresário Rubens Lessa, em nota, afirmou que o “endereço da empresa mencionado na reportagem não pertence ao Grupo Empresarial SARITUR, esclarece que os nomes citados na reportagem não fazem parte da direção do Grupo e que, o assunto tratado na matéria, era de total desconhecimento da diretoria da empresa”.

Colaboraram com esta reportagem: Maria Lúcia Gontijo, Thaís Pimentel, Raquel Freitas, Elisa Ferreira, Larissa Carvalho e Carlos Eduardo Alvim

Fonte: G1