Lava-Jato, relação com Bolsonaro e futuro político; Saiba pontos da entrevista de Sérgio Moro à TV Meio Norte

Sérgio Moro, ex-ministro da Justiça, em entrevista concedida ao Programa Agora, no quadro Jogo do Poder, da TV Meio Norte, abordou temas como sua passagem e saída do Ministério da Justiça, relação com Jair Bolsonaro, após os escândalos nos quais se envolveram e, até mesmo, pretenções políticas.

No quesito governo, Moro foi questionado se, em algum momento se arrependeu de ter deixado o magistrado para ingressar no ministério. “Foi uma experiência muito positiva. Gostaria de ter ficado mais, fui forçado a sair por conta das circunstâncias e não me arrependo de ter assumido o ministério”, disse o ex-ministro.

Lava Jato

O ministro ainda falou sobre sua atuação na Lava Jato e a forma como recebe as críticas sobre a atuação da equipe que atuou na operação, na época em que ele esteve à frente. Segundo alguns críticos, a forma como a ação foi realizada caracteriza-se de certa forma como um ataque à democracia.

“Esse efeito colateral decorrente das investigações da Lava-Jato contra corrupção, nunca foi desejado pelo agentes que atuavam na operação. Pelo contrário, todas as pessoas que atuam nessa ação, geralmente são pessoas muito ligadas aos critérios da lei e da legalidade e, eu sempre vi o combate a corrupção como uma forma de fortalecer a democracia, assim como a economia. Então, você pegar um agente político, como o Eduardo Cunha, José Dirceu, eles não foram perseguidos por suas posições políticas, então não há uma criminalização da política, se trata de agentes políticos que se corromperam. Mas boa parte do mundo político são pessoas íntegras e honestas, mas quem é desonesto tem que pagar pelos seus crimes”.

A polêmica reunião ministerial de 22 de abril

A polêmica reunião ministerial de 22 de abril, também foi pauta da entrevista. Moro falou sobre questionamentos que surgiram sobre seu posicionamento durante o encontro do presidente Jair Bolsonaro, com alguns dos seus ministros.

“Ali, eu estava em um posição muito desconfortável, na defensiva e ficava pensando se aquilo não iria acabar nunca ou o que eu estava fazendo naquele lugar. Depois, as pessoas me questionaram o porque eu não saí ou comentei nada naquele momento, mas ali, não tinha espaço para deliberações contraditórias. Os ânimos estavam muito acirrados e, o presidente (Bolsonaro) não tem muito esse viés de ouvir posicionamentos”, disse Moro.

Discussão em torno do caso do ex-presidente Lula

“O juiz julga segundo a Lei e seguindo provas e nós tivemos durante o governo do presidente Lula e, em parte do governo da presidente Dilma, um saque à Petrobras, que é reconhecido internacionalmente. Empresas que pagaram suborno como a Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Correa, todas elas fizeram basicamente o seguinte: Elas tinha que pagar subornos em contratos com a Petrobras, isso ia para diretores e agentes políticos. E o processo de Lula, se insere nesse contexto. Para mim, esse processo só trouxe problemas, porque as pessoas não compreendem que, no curso do processo defesa do presidente Lula, quis usar o álibi da perseguição política, sob a oratória de que ele estaria sendo processado, não por ter cometido um crime, mas por quererem tirá-lo do processo eleitoral, mas eu não fui o único juiz que julgou. Eu julguei a sentença de primeiro grau, depois teve um Tribunal de Apelação em Porto Alegre com três desembargadores, depois o STJ, em Brasília, com seis ministros, depois teve um outro processo que, quem condenou e emitiu a sentença foi uma juíza federal. Então, o que se quer construir é um álibi de perseguição política, que não existe. Da minha parte, animosidade contra o ex-presidente, eu não tenho, até porque, não o conheço pessoalmente e não tenho nenhum sentimento negativo contra ele. Eu apenas cumpri meu dever, assim como saí do governo cumprindo meu dever. Eu sinto muito, por pessoas que tinham o ex-presidente como alta ponta, por terem ficado desiludidas ou não compreenderem bem, mas era o que eu podia fazer. Não posso absolver alguém só por ele ser uma figura pública”.

Relação com Bolsonaro

“Não tenho nada contra o presidente Bolsonaro. Antes de ser cotado para o ministério, eu não o conhecia, tive u encontro muito rápido com ele no aeroporto e que foi, inclusive filmado. E depois de algum tempo, eu recebi o convite, que eu aceite, não por ele, mas porque eu tinha um plano, uma agenda, para consolidar os avanços anticorrupção no país. E naquele momento, eu achei que valeria a pena. Eu desejo que faça um bom governo, pois o país depende disso. Eu acho que ele te condições de mudar algumas posturas, recuperar algumas promessas que foram feitas, algumas agendas perdidas e, acima de tudo, despertar para a gravidade da pandemia, que é o principal problema do momento, ficando atento para recuperação da economia”.

Continuando, Moro fez uma análise do governo de Bolsonaro.

“Eu acho que seu governo tem características de populismo de direita, com aqueles arroubos autoritários. Aparentemente, ele moderou o tom, o que é positivo, gerando mais estabilidade, mas é importante que permaneça assim”.

Pretenções políticas

Ao ser questionado sobre uma possível candidatura à presidência, Moro mostrou-se despreocupado com o tema e falou que esse ponto não está em seus planos, no momento.

“Eu não estou com planos políticos, pensando em eleição ou política partidária. Isso não me vem à mente no momento.