Crônica: O homem, o poste e a tristeza humana

Filmar, fotografar e reproduzir cenários de acidentes, principalmente quando envolve mortes, é uma prática mórbida que revela a tristeza humana. Mostra o lado maldoso e egoísta das pessoas.

Mas até que ponto esses registros podem chegar? Durante um vídeo que circula nas redes sociais de um homem em cima de um poste elétrico, ouve-se um rapaz gritando “pula! pula logo, infeliz. Acaba logo com isso”. Não se ouve ninguém “não pule, desça”.

A pessoa que gritou “pule”, com certeza deve ser um indigente existencial. Deve ter uma vida tão rasa a ponto de achar esse circo dos horrores um grande “barato”.

Quanto as outras pessoas que assistiam e filmavam a cena, limite é uma palavra inexistente, e mais vale um flagra, mesmo que sensacionalista e cruel, que atitudes de solidariedade e respeito com o ser humano.

O artista e professor Avelar Amorim, que também passava pelo local, lançou um olhar crítico que traduz bem a falta de empatia com o próximo, em favor da sede de sangue das pessoas.

“Acabo de passar pela Av. Dom Severino e presencio uma cena triste; um cidadão no topo de um poste de alta tensão a espera de se jogar. Uma multidão com seus celulares na expectativa do salto mortal. O Corpo de Bombeiro montava a estrutura de socorro. Não tive coragem de olhar muito tempo. Parecia jovem, com algumas tatuagens nas pernas e o olhar perdido. Vez por outra mudava de lado segurando a haste do poste. Vez por outra encostava a cabeça pensativo. O mais sinístro foi o a expressão de alguns olhares com as mãos em êxtase segurando o celular; pareciam dizer: “pula! pula logo, infeliz. Acaba logo com isso” … Lembrei do trecho de Buarque “E flutuou no ar como se fosse um príncipe…”

Vai encarar?