
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) prestou, na tarde desta terça-feira (10), seu depoimento como réu no núcleo 1 da ação penal que investiga a suposta tentativa de golpe pós-eleições de 2022. Diante do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro alternou críticas ao sistema de urnas eletrônicas, defendeu o voto impresso, negou ter “enxugado” a minuta do golpe e chegou a convidar Moraes para ser seu vice na eleição de 2026.
1. Críticas ao sistema eleitoral e defesa do voto impresso
Ao iniciar seu depoimento, Bolsonaro voltou a questionar a lisura das urnas eletrônicas, afirmando que a desconfiança em relação ao sistema não é exclusividade sua e repetindo seu pleito pelo retorno do voto impresso:
“Sempre tive retórica contra as urnas, cobrei voto impresso em 2015 e continuo achando que traz mais transparência ao processo” .
O ex-presidente também relatou que, em recentes viagens pelo Nordeste, foi bem recebido pela população, sugerindo que “as imagens pessoais” dessas recepções poderiam comprovar sua popularidade.
2. Pedido de exibição de vídeos é negado
A defesa de Bolsonaro apresentou, antes do início do interrogatório, um pedido para exibir vídeos com críticas de autoridades ao sistema eleitoral, anexados a um pen drive levado pelo ex-presidente. Moraes, porém, indeferiu a solicitação, ressaltando que o interrogatório não é o momento adequado para a introdução de provas novas, desconhecidas das partes, e orientou que, caso a defesa queira usá-las, deve juntá-las aos autos para contraprova e manifestação da acusação e dos demais réus .
3. Negativa de edição da “minuta do golpe”
Uma das principais acusações no processo é de que Bolsonaro liderou, em 2023, articulações para subverter a transição de poder, incluindo o planejamento de um documento — a chamada “minuta do golpe” — que previa prisões de membros do Judiciário e do Legislativo. O coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do presidente, admitiu em sua delação que Bolsonaro teria recebido, lido e “enxugado” o texto .
Em seu depoimento, contudo, o próprio Bolsonaro negou ter editado qualquer minuta ou promovido conspirações:
“Em nenhum momento agi fora da Constituição. Não recebi, não editei e tampouco ordenei qualquer tipo de documento que violasse o Estado de Direito” .
4. Convite a Moraes para vice em 2026
Em um momento de descontração, Bolsonaro dirigiu-se diretamente a Alexandre de Moraes e, em tom de brincadeira, o convidou para compor sua chapa como vice-presidente em 2026:
“Eu gostaria de convidá-lo para ser meu vice em 26” – ao que o ministro respondeu, sorrindo: “Eu declino” .
5. Contexto e próximos passos
– Acusação: A Procuradoria-Geral da República (PGR) imputa a Bolsonaro liderança de organização criminosa com objetivo de abolir violentamente o Estado democrático de direito após as eleições de 2022.
– Fase processual: Após o depoimento de Bolsonaro, ainda serão ouvidos outros réus do chamado núcleo 1. Em seguida, a PGR poderá apresentar perguntas e, depois disso, serão realizadas manifestações finais antes da sentença.
Penas previstas: Caso condenado por todos os crimes (entre os quais tentativa de golpe de Estado e organização criminosa), o ex-presidente pode enfrentar penas que somam até mais de 40 anos de reclusão.
O depoimento foi acompanhado ao vivo por dezenas de correspondentes e ocorre em um momento de acirramento político no país, com o ex-presidente mantendo forte protagonismo no debate público e mirando as eleições de 2026 como possível retorno ao Palácio do Planalto.