“Brics não tem um só dono”, diz chanceler brasileiro

O chanceler Mauro Vieira (foto) publicou artigo na Folha de S.Paulo para rebater as críticas de que o Brasil se submeteu à China no âmbito dos Brics, recentemente ampliado de cinco para 11 membros. “Sugiro cuidado com análises que têm como pontos de partida lógicas importadas que fazem lembrar as da Guerra Fria do século passado”, defende o diplomata.

“O Brasil e sua diplomacia sempre souberam navegar em momentos de fratura, como nas duas guerras mundiais e também na Guerra Fria, sem alinhamentos automáticos ou alianças excludentes —e não será diferente caso cenários semelhantes se repitam no futuro. Não nos faltam, para isso, experiência, acesso a todos os interlocutores, clareza sobre o interesse nacional e visão estratégica”, diz Vieira, que divide o protagonismo da diplomacia brasileira atualmente com o ex-chanceler Celso Amorim, atualmente assessor especial para assuntos internacionais da Presidência de Lula.

Vieira diz que a ampliação recente do bloco “ensejou também interpretações equivocadas sobre a suposta supremacia de um país sobre os demais, como se isso fosse possível em um bloco no qual impera o consenso como regra”. “A simples aritmética desmonta essa visão de viés conspiratório: afinal, ninguém questiona que o consenso entre 11 é mais difícil construir do que entre 5, seja em uma negociação diplomática entre países ou em um grupo de WhatsApp ou mesa de bar”, argumenta.

“O Brics não tem um só dono, e a negociação em Joanesburgo demonstrou essa realidade claramente. Já a partir do processo preparatório dos últimos meses, a delegação brasileira insistiu na necessidade de critérios e compromissos a serem assumidos pelos novos membros, caso da necessidade de reforma das Nações Unidas e do seu Conselho de Segurança. Quem já se deu ao trabalho de ler a declaração da cúpula de Joanesburgo e de compará-la às declarações de encontros anteriores pôde comprovar uma evolução importante na posição do bloco e de todos os seus cinco integrantes, a ser seguida pelos países convidados que queiram ingressar”, segue o chanceler no artigo, celebrando os resultados da cúpula.

Lucas Azambuja, professor e doutor em sociologia pela USP, tratou do assunto longamente em entrevista recente ao podcast Latitude (assista à íntegra abaixo). “No fundo, essa iniciativa de ampliação do Brics faz parte de uma estratégia de pressão da China”, disse Azambuja, destacando que essa proposta vinha sendo rejeitada pelo Brasil até o governo Lula. Segundo o especialista, após a ampliação o Brasil perde possibilidade de protagonismo, que se dilui entre mais membros no bloco, e se tornará naturalmente mais dependente da China economicamente.

 Fonte: O ANTAGONISTA