Melancia pode agravar crises de enxaqueca, revela pesquisa da UFDpar

Há 15 anos, o estudante Moisés Pereira vem convivendo com a constante presença da enxaqueca em sua vida. A doença, que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, tornou-se uma parte indesejada de seu cotidiano. No entanto, foi recentemente que ele fez uma descoberta surpreendente: a melancia, uma fruta aparentemente inofensiva, poderia estar agravando suas crises de enxaqueca.

“Desde os quinze anos, passei por um período de adaptação, pois era necessário identificar o que desencadeava ou agravava minhas crises e, assim, determinar quais alimentos evitar. Então, logo percebi que a melancia, uma fruta que adoro consumir em grande quantidade, estava me prejudicando. Atualmente, consumo muito menos melancia e, até quando apresento sintomas, evito ingerir essa fruta", disse.

A melancia pode aumentar a intensidade da dor de cabeça em pacientes que sofrem de enxaqueca.

Moisés não está sozinho nessa preocupação. Muitas pessoas já ouviram falar que a melancia pode desencadear enxaquecas quando consumida, e essa suposição foi confirmadapelo professor de Ciências Farmacêuticas, Silva Néto, da Universidade Federal Delta do Parnaíba (UFDpar), por meio de uma pesquisa de pós-doutorado.

Essa pesquisa, desenvolvida ao longo de dois anos, foi realizada com grande rigor científico. Para comprovar o possível malefício da fruta, foi realizada uma amostra dividindo participantes entre aqueles que sofriam de enxaqueca e aqueles que não eram afetados pela doença. Os resultados revelaram uma interessante descoberta sobre a melancia.

"A pesquisa foi conduzida ao longo de cerca de dois anos, durante os quais recrutamos estudantes do curso de medicina. Um total de 76 alunos voluntariaram-se, sendo que metade deles tinha enxaqueca, enquanto a outra metade não apresentava esse problema. Todos os voluntários consumiram uma porção de melancia e foram observados durante 24 horas. Foi constatado que apenas o grupo com enxaqueca desenvolveu dor de cabeça, e essa dor surgiu de forma bastante precoce. A melancia atuou como um gatilho para desencadear essa dor em indivíduos suscetíveis", explicou.

"A dor de cabeça provocada pela melancia ocorre devido à presença de um aminoácido chamado citrulina na fruta. Este aminoácido é a principal fonte de citrulina na natureza e se converte em outro aminoácido, a arginina, que por sua vez causa a produção de óxido nítrico. O óxido nítrico age no cérebro como um potente vasodilatador, causando a dor. Portanto, sempre que um indivíduo sensível ao consumo de melancia a ingere, ele experimenta dor de cabeça por meio desses mecanismos", concluiu o professor.

O trabalho árduo e a dedicação resultaram em um achado de grande importância para a comunidade médica global. Para Gabriela Leal, acadêmica de Medicina envolvida no projeto, a jornada foi desafiadora, mas igualmente gratificante. Ela enfatiza a relevância desse estudo para a medicina moderna.

“Sinto-me profundamente grata por fazer parte deste projeto, pois considero um avanço significativo na área da enxaqueca. Quando uma descoberta como essa ocorre e revela que a melancia pode ser um gatilho para a enxaqueca, isso valida as queixas dos pacientes. Agora, quando um paciente relatar ter sentido dor de cabeça após consumir melancia, podemos afirmar que existe uma correlação real. É crucial destacar que essa informação inédita contribui não apenas para a medicina local, mas também para a comunidade médica global”, explicou.

A pesquisa inédita no país, conduzida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Piauí (UFPI), foi publicada neste ano em revistas internacionais, como a European Neurology.

Dados

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a enxaqueca atinge cerca de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo, tornando-se a sexta doença crônica mais prevalente. No Brasil, 15% da população sofre de forma crônica, enfrentando crises que duram 15 dias ou mais por mês.

Fonte/ créditos: Jornal da Parnaíba