Maioria aprova pressão de Lula pela queda dos juros, aponta Datafolha

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "Quero saber de que serviu a independência do Banco Central", "é só ler a carta do Copom para a gente ver que é uma vergonha esse aumento de juros", "precisa cuidar da política monetária, mas precisa cuidar também do emprego, da inflação e da renda do povo."

Nos primeiros meses de seu terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio da Silva (PT) tem feito duras críticas, como essas, ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, por manter a Selic, a taxa básica de juros, em 13,75% ao ano.

Copom mantém a Selic no autal patamar desde setembro de 2022, quando interrompeu um ciclo de 12 altas consecutivas.

Sob o argumento de controlar a inflação e trazê-la para a meta, Campos Neto tem dito que as decisões do BC são técnicas e baseadas nas expectativas de inflação futura.

Em entrevistas e discursos desde que tomou posse, Lula tem rebatido a autoridade monetária, autônoma desde 2021, apontando que os juros no Brasil não conseguem atacar uma inflação que não é ocasionada pelo aumento de demanda e ainda freiam o crescimento econômico.

Nesse cenário, o Datafolha perguntou aos brasileiros, nos dias 29 e 30 de março, como eles avaliam o patamar atual da Selic.

Os questionamentos do presidente parecem encontrar eco na população. Para 71% dos entrevistados, a taxa de juros está mais alta do que deveria. Entre os que pensam assim, 55% dizem que ela muito mais alta do que deveria, e apenas 16% consideram que está um pouco mais alta.

Mesmo entre os eleitores do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, que indicou Campos Neto para o BC, a percepção de que os juros estão mais altos do que o recomendado é de 77%. Entre as regiões do país, essa opinião só fica abaixo dos 70% no Nordeste (67%).

Já 17% dos brasileiros dizem crer que os juros básicos estão em um patamar adequado, somente 5% responderam que ela está mais baixa do que deveria, e 6% não souberam responder.

Especificamente sobre a pressão feita por Lula pela redução dos juros, a pesquisa também apontou que 80% dos entrevistados dizem considerar que o presidente está agindo bem. Para 16%, o mandatário age mal, e 5% não souberam responder.

O apoio ao presidente Lula nesde tópico é maior entre os brasileiros que recebem até dois salários mínimos (R$ 2.604), faixa em que 85% dizem concordar com o petista.

Também é assim entre aqueles com até o ensino fundamental (84%), os desempregados e que estão sem procurar emprego (91%) e os que se declaram pretos (84%).

Entre os que têm ensino superior, 24% afirmam que Lula age mal ao pressionar o BC; entre os empresários, 28%; entre os que se declaram brancos, 19%.