'Impediu minha ida para a UTI', diz Roberto Kalil sobre cloroquina

Ainda com a respiração ofegante e muita tosse, o cardiologista Roberto Kalil Filho um dos nomes mais respeitados da cardiologia no Brasil, deixou o hospital nesta quarta-feira (8), após dez dias internado para tratamento da covid-19.

Ao receber alta, ele resolveu tornar público que tomou, desde o primeiro dia, um conjunto de medicamentos que inclui a hidroxicloroquina, droga antimalária amplamente usada no Brasil e também indicada para algumas doenças autoimunes, que vem apresentando evidências positivas no tratamento contra o coronavírus.

O medicamento ainda divide opiniões entre a comunidade médica em relação à covid-19, mas diversos hospitais, inclusive o Sírio-Libanês – onde Kalil Filho chefia a cardiologia e ficou internado – têm adotado o uso, seguindo orientações estabelecidas pelo Ministério da Saúde.

Em entrevista ao R7, o cardiologista, que também é presidente do conselho diretor do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP), conta que chegou ao hospital “ruim”, no começo da semana passada.

“Eu cheguei com uma pneumonia avançada, com oxigenação baixa, fui do apartamento transferido com urgência para a semi-intensiva, ia para a UTI.”

Logo no primeiro dia, a equipe médica discutiu com ele o uso de um conjunto de medicamentos: antibiótico, anticoagulante, corticoide (anti-inflamatório) e também a hidroxicloroquina.

“Eu acredito que esse conjunto de tratamento impediu minha ida para a UTI. Eu fui melhorando, dois, três, quatro, cinco dias… depois eu fiquei relativamente bem. Ainda estou convalescendo.”

Kalil Filho afirma que resolveu falar sobre o tratamento, porque, como médico e também paciente, acredita não se pode aguardar por muitos meses até que sejam publicados grandes estudos sobre o medicamento, já que a situação da pandemia em muitos países, incluindo o Brasil, agrava-se diariamente.

“Eu resolvi falar, defender [o uso da hidroxicloroquina] para os pacientes internados. Desde que você consiga minimizar, atenuar a gravidade do caso do paciente, impedir que ele vá para a UTI e mandá-lo para casa o quanto antes, você desafoga, além de estar salvando vida, desafoga o serviço público principalmente.”

O cardiologista compartilha do posicionamento adotado pelo Ministério da Saúde de que a medicação deve ser usada em pacientes internados e sob supervisão médica. Ele chama de “especulação” o uso para pacientes em casa, com quadros leves da doença.

De todos os infectados pelo coronavírus, os estudos mostram que 80% não apresentam sintomas; 15% têm sintomas, mas se recuperam sem necessidade de internação. Apenas 5% precisam ser hospitalizados.

“Estes 5%, que é o meu caso, têm que tomar tudo o que têm direito. Como é que vou esperar daqui a um ano sair um estudo do que é melhor ou pior?”, questiona Kalil.

Antiviral

Neste primeiro momento, no Brasil, a cloroquina se mostra como uma possibilidade, por ser um medicamento de fácil acesso e barato, “mas sempre com orientação médica, sempre seguindo a ciência, sempre seguindo as diretrizes”, acrescenta o médico.

No entanto, estudos sobre antivirais contra o novo coronavírus devem sair em breve.

“Nem lá fora tem o antiviral [em uso para tratamento] ainda. Agora, saindo estudos, que eu espero, que eu torço, devem estar para sair semana que vem…. o antiviral resolve o problema. Eu acho que aí o laboratório que fizer isso vai fazer milhões de doses. E o Brasil tem que importar no mesmo dia. Saindo um remédio, nesta comoção toda, seria a nossa glória.”

Por fim, Kalil, que tem 60 anos, orienta para que a população não duvide do quão severa a covid-19 pode ser em alguns pacientes.

“O meu recado é que não dá para duvidar da doença, eu senti na pele.”