Câmara de Teresina discute volta dos manicômios e eletrochoques

A Câmara Municipal de Teresina realizou na segunda-feira (18), uma audiência que tratou sobre a mudança na política de saúde mental proposta pelo Governo Federal que, através de nota técnica do Ministério da Saúde (MS), propõe a volta dos manicômios, compra de equipamentos de eletrochoque e internações psiquiátricas de crianças e adolescentes.

Segundo a vereadora Graça Amorim (PMB), a audiência foi uma solicitação das entidades em saúde do Piauí, que, preocupadas com a edição da nota técnica do MS, querem abrir um debate sobre essas novas propostas para política de saúde mental no país.

“Especialistas em saúde consideram a nota um retrocesso. Isso em face dos avanços que já existem na medicina, na psicologia e na psiquiatria, como o tratamento através dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Sabemos que existem casos que precisam de internação, mas não de forma generalizada como está sendo prevista pela nova política do Governo Federal”, disse a vereadora Graça Amorim.

Para o presidente do Conselho Regional de Psicologia (CRP), Eduardo Moita, a questão da saúde mental vem sendo discutida no mundo inteiro e precisa ser inclusiva. Segundo ele, existem estudos que mostram que as pessoas que passam pela inclusão social melhoram a sua condição mental.

“Enxergamos essa nota técnica como um retrocesso. A questão da volta dos manicômios é preocupante, gera um desarranjo social e uma negatividade muito grande. É a volta de um modelo que foi extinto e causa uma preocupação enorme para nós que trabalhamos com saúde mental. O modelo de CAPS do Brasil foi copiado pela Itália, ele é muito bom, é um modelo que deu certo. Porém, houve um sucateamento, com falta de verbas, e por isso ele não funciona bem. Os CAPS estão com recursos financeiros diminutos”, disse Eduardo Moita.

O coordenador da Associação Piauiense de Familiares e Usuários de Drogas e Álcool (HOMO LOBUS), Mayron Emanuel de Sousa Garcia, considera que a proposta da nota técnica para o tratamento dos dependentes químicos com a volta dos manicômios não funciona.

“Todos os usuários de álcool e outras drogas têm o direito de fazer seu tratamento e depois voltar para casa e serem inseridos na sociedade. Ter uma vida normal como qualquer outra pessoa. O dependente químico precisa muito da presença de profissionais de saúde perto dele, porque são eles que o fazem reconhecer sua doença e diagnosticam o seu humor e a sua vida. O afastamento social não funciona, é um absurdo”, afirma Mayron Eduardo.

A audiência contou com a presença de autoridades de saúde nos âmbitos estadual e municipal, comunidades terapêuticas, Conselho Municipal de Saúde (CMS), vereadora Pollyana Rocha (PV), vereadora Cida Santiago (PSD), vereador Luís Lobão (MDB), e usuários dos CAPS de Teresina e União, Norte do Piauí.

Fonte: CMT