O Quilombo Mimbó, localizado na zona rural de Amarante, cidade a 160 km de Teresina, registrou neste sábado (02) um episódio de racismo contra um morador dentro da própria comunidade. A denúncia do caso foi realizada nas redes sociais e gerou revolta.
Em entrevista ao Meionorte.com, Françoar Paixão, residente do quilombo e alvo dos ataques, segundo a denúncia, explicou que teria ido participar do aniversário de uma prima, quando ocorreu a situação. Conforme o morador, lá também estava o suspeito das ofensas, que era convidado de fora da comunidade e atual genro da aniversariante.
“Eu fui nesse aniversário na casa da minha prima e um rapaz, que nunca tinha visto, de fora, de Floriano, se encostou perto de mim e começou a falar sobre pele. Sobre que a mãe dele era negra, a avó dele e que a pele dele ‘era mais clara’. Perguntou um monte de barbaridade. Eu peguei uma cerveja, ele pegou a minha e esfregou no nariz, cheirou e saiu para pegar outra. Depois ele me chamou de um monte de barbaridades, ofensas racistas, me ofendeu bastante. Me mandou tomar naquele lugar, me chamou de ‘negro preto’, essas coisas”, destacou a vítima.
Françoar Paixão disse que em seguida se retirou do local, para evitar maiores confusões. A denúncia feita pelo quilombo nas redes sociais consta ainda que, após o episódio, a esposa do Françoar, Tatiana Barreto, disse para o homem que ele estava cometendo um crime. “Nesse momento, a nora do racista diz em alto e bom som que ‘Ninguém filmou, ninguém tem prova e eu sou amiga do delegado, isso não vai dar em nada!”. Vale ressaltar que sogra do racista também é retinta, mas que não é natural do Mimbó”, diz a nota.
Veja na íntegra:
O morador relata não saber o motivo do acusado da denúncia ter começado as injúrias. Françoar disse que ficou bastante abalado com a situação e que nunca tinha acontecido dentro da comunidade.
“Eu nem conheço ele, não sei porque ele começou isso. Eu sai de perto e ele ficou falando um monte de coisas, ficou me xingando de nomes pesados. O pessoal chegou e depois começou a aquietar. Eu nem dormi ontem, passei a noite chorando e fiquei com aquilo na minha cabeça”, destacou, explicando que o homem o procurou na manhã seguinte para pedir desculpas e se justificar, negando que tenha cometido racismo.
A presidente da Associação de Moradores do Mimbó, Martha Paixão, destacou que o caso será levado para as autoridades responsáveis. Eles só estão aguardando um transporte para ir até à delegacia, para realizar um boletim de ocorrência. O quilombo fica a 18 km do centro de Amarante.
“Eu estava participando de uma feira em Amarante quando soube. Foi quando colocamos nos grupos das comunidades e está todo mundo revoltado, tanto o pessoal de fora quanto a gente. 200 anos de luta e vem uma pessoa simplesmente só para dizer que é isso e é aquilo. A gente não aceita mais. Estamos só vendo a questão do transporte para ir lá hoje (delegacia). Ele veio hoje pedir desculpas: ‘Você acha se eu fosse racista, teria casado com a filha de uma mulher negra?’, que é a mãe da mulher dele”, disse Martha Paixão.