Lula diz que "estão tentando fazer das campanhas eleitorais uma guerra"

No primeiro ato público após o assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda, tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu (PR), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros dirigentes partidários discursaram, ontem, em Brasília, contra a violência política. O evento da pré-campanha do petista à Presidência ocorreu no Centro de Convenções Ulysses Guimarães sob forte esquema de segurança. Os organizadores estimam que oito mil pessoas estiveram presentes.

"Estão tentando fazer das campanhas eleitorais uma guerra. Estão querendo dizer que tem uma polarização criminosa. É interessante, porque o PT polariza as eleições para presidente desde 1994", enfatizou Lula. "Não tenho nenhuma história, nenhum sinal de violência em todas as campanhas que eu participei. Mesmo quando eu perdi do (Fernando) Collor. Eu voltei para casa cada vez em que fui derrotado. Lamentava ter perdido as eleições e me preparava para outra disputa. Nunca, em nenhum momento, falei de violência em campanha."

Lula citou os ataques recentes que ocorreram em seus eventos. Em Uberlândia (MG), em dia 15 de junho, um homem comandando um drone despejou veneno sobre militantes que aguardavam o início do ato. Já na última quinta-feira, no Rio de Janeiro, um opositor atirou uma bomba caseira com fezes sobre os participantes.

"E o mais grave aconteceu no domingo", disse o ex-presidente, numa referência a Arruda, assassinado a tiros pelo policial penal bolsonarista Jorge Guaranho. "Em que o companheiro, com a sua família, comemorava seu aniversário. E uma dessas pessoas, tomadas pelo ódio, tomada pela loucura, tomada pelo fanatismo ou pelo sectarismo (...) invadiu o salão do dono da casa e o matou. Eu acho que a sociedade brasileira começa a perceber o que está em jogo", enfatizou.

O ex-presidente ainda fez um apelo a seus apoiadores para que não revidem os casos de violência. "Não quero ver ninguém aceitando provocação. São três meses em que vamos nos multiplicar nas ruas. Vamos continuar fazendo passeatas. Vamos ter de dar uma lição de moral que nem o (Mahatma) Gandhi deu", afirmou. "Nós não precisamos brigar, a nossa arma é a nossa tranquilidade. Nós não temos de aceitar provocação. Se alguém provocar vocês, mande morder o próprio rabo."

O tema da violência política foi um dos pontos centrais do evento de ontem. Na abertura, a presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, pediu um minuto de silêncio pelos mortos por motivos políticos, como destacou, citando Marielle Franco e Anderson Gomes; o capoeirista Moa do Katendê, morto a facadas em 2018 após declarar que votaria em Lula; o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips; e Arruda.

Os casos recentes de violência colocaram a campanha presidencial em alerta. O ato de ontem ocorreu em local fechado, com rígido controle dos participantes e forte esquema de segurança. O público teve de se cadastrar previamente. Os participantes também passaram por detectores de metal. Além disso, a organização procurou evitar que o público se concentrasse apenas na entrada centro de convenções e agiu rapidamente para repreender um dos presentes que acendeu um sinalizador com fumaça vermelha. O rigor no controle das entradas, inclusive, provocou longas filas.

Fonte: Correio Braziliense