O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) lançaram mão do arsenal de acusações mútuas e chamaram um ao outro de mentiroso no primeiro debate do segundo turno das eleições, promovido por Folha, UOL, TV Bandeirantes e TV Cultura, neste domingo (16).
Lula reforçou mensagens para atacar incompetência do rival e má gestão na pandemia de Covid-19 e na economia, enquanto Bolsonaro insistiu na estratégia de vincular o petista à corrupção. O ex-presidente repetiu críticas à Operação Lava Jato, que o levou à prisão -suas condenações foram depois anuladas.
Apesar das falas duras, o clima foi no geral moderado, com ambos mantendo o tom de voz baixo, esboçando sorrisos irônicos, evitando agressividade e se movimentando em direção às câmeras para conversar com os eleitores.
Ao longo do debate, Lula pediu quatro direitos de resposta por falas de Bolsonaro que considerou ataques à honra, e um foi concedido. O atual presidente solicitou dois pedidos, que não foram atendidos pela comissão responsável no programa.
O petista acabou administrando mal seu tempo ao longo do último dos três blocos, permitindo que Bolsonaro falasse por mais de 5 minutos ao final.
Ao falar sobre corrupção, Bolsonaro recebeu ajuda nos intervalos do ex-juiz Sergio Moro, que acompanhava a equipe. O senador eleito pelo Paraná e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, com quem estava rompido, municiou o candidato com dados. O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) também orientou o pai, principalmente com dicas para andar pelo cenário e olhar para as câmeras.
A estratégia detonada pelo PT horas antes do debate, de vincular Bolsonaro a pedofilia após a fala de que "pintou um clima" com "menininhas de 14 e 15 anos", foi diluída no debate, depois que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) impediu a candidatura de continuar fazendo a associação.
Bolsonaro afirmou que Lula e aliados são "especialistas em pegar vídeos" e cortar trechos para atacá-lo, em referência indireta ao caso da fala usada no fim de semana contra o presidente. O petista riu e rebateu, dizendo que é o lado do presidente que adota essa linha e distribui fake news.
Lula também aludiu ao episódio ao lembrar que o rival fez uma live na madrugada deste domingo para se explicar sobre a fala. Foi Bolsonaro quem levou o assunto explicitamente ao palco, para acusar a campanha petista de mentir. Ele chegou a ler trechos da decisão do presidente do TSE, Alexandre de Moraes, com quem antagoniza.
A decisão fala em "conteúdo sabidamente inverídico". O presidente afirmou que Lula tenta atingi-lo "no que eu tenho mais de sagrado, defesa das famílias e das crianças". O petista usou no terno um broche da campanha Faça Bonito, de combate à violência sexual contra crianças e adolescentes.
No debate sobre desinformação, Lula relembrou disputas eleitorais passadas. "O nível era outro, era um nível civilizado. A verdade sempre prevalecia. A gente debatia o futuro do país", afirmou.
"Mentiroso é você. Você mente todo dia", disse o petista com o dedo em riste na direção do oponente, a certa altura, prometendo fazer um governo com credibilidade, caso eleito.
Os dois postulantes evitaram se comprometer efetivamente com o combate a notícias falsas, após pergunta sobre o baixo nível da campanha no segundo turno. As duas campanhas tiveram conteúdos removidos por ordem da Justiça Eleitoral.
Em desvantagem no Nordeste, o candidato à reeleição tentou desgastar Lula com o eleitorado da região com críticas ao petista por não ter finalizado a transposição do rio São Francisco. "O senhor promete o tempo todo. O senhor prometeu levar água para o Nordeste e agora está prometendo picanha e cerveja. O senhor não fica vermelho com essas propostas mirabolantemente mentirosas?", questionou o presidente.
Lula ironizou "a cara de pau desse cara" ao rebater a fala de Bolsonaro de que ele não entregou a transposição. O petista disse que a maior parte das obras (88%) foi feita nas gestões do PT, que iniciaram o projeto. "Você acha que o nordestino que está vendo a gente na televisão acredita que você levou a água?", disse, dirigindo-se ao rival.