O senador eleito pelo Piauí, Wellington Dias (PT), que coordena as discussões relativas a adequação do Orçamento da União com o Congresso Nacional, concedeu entrevista nessa segunda-feira, 14 de novembro, ao 'Roda Vida', na TV Cultura/TV Jornal 20.1. Na ocasião, ele confirmou o indicativo para se excepcionalizar R$ 175 bilhões do teto de gastos, direcionados ao pagamento do Bolsa Família de R$ 600, liberando recursos para aplicação em programas como o Farmácia Popular, na merenda escolar e no atendimento a pacientes com câncer.
Cotado para um Ministério, o líder político defendeu que a despesa com o Bolsa seja considerada permanente, sendo retirada do teto não apenas no próximo ano, exemplificando com os gastos com as eleições que não entram no cálculo. Esse ponto do período da excepcionalização provoca divergências entre membros da transição e oposicionistas, como é o caso do ministro da Casa Civil Ciro Nogueira (Progressistas). "Uma das divergências é essa. A fome não tira férias. Há a necessidade de se garantir os recursos. Vamos ter a posição da transição de que um problema deva ser excepcionalizado. Porque não dar a mesma regra para algo tão importante que tem em relação com a vida...", questionou.
A atenção aos mais vulneráveis é indispensável para Lula, assim Wellington indicou que o presidente eleito conseguirá alcançar a responsabilidade fiscal e ao mesmo tempo manterá e ampliará os programas sociais. "É um presidente humano, o Brasil tem o privilégio de ter um dos presidentes mais humanistas do planeta. É um dos presidentes que mais teve responsabilidade fiscal na história do Brasil".
De acordo com o piauiense, Lula quer apenas a garantia de que iniciará o Governo com as condições para fornecer o básico para população, o que não seria possível com a peça orçamentária encaminhada pelo presidente Jair Bolsonaro. "Nós temos uma situação em que estamos tratando de comida, de remédio, será que não tem a sensibilidade. Concordo plenamente, não há uma guerra entre as duas. O presidente apenas quer iniciar um mandato que não negue o dinheiro para as necessidades mais básicas".
Questionado sobre as críticas do senador Renan Calheiros (MDB-AL) na construção de uma PEC de Transição, Dias apaziguou o tema, indicando que o parlamentar trouxe alternativas, no entanto a mais segura na análise da equipe foi a construção do diálogo com o Congresso em torno da Proposta de Emenda à Constituição. "O senador Renan trouxe alternativas, a mais segura, deixaram de fora o interesse de milhões de pessoas. O que lhe digo é que estudamos essa alternativa, mas encontramos sem condicionantes boa vontade para que se tenha entendimento na Câmara e no Senado".
"O Brasil está doente"
No que se refere aos atos antidemocráticos, Wellington Dias teceu elogios a trechos da nota da Forças Armadas em que se condena o excesso nas manifestações, e dispara contra a postura do ainda presidente Jair Messias Bolsonaro. "Eu elogiei quando eles falam da prioridade da democracia, do respeito à constituição". De acordo com ele, além da violência cotidiana, há agora o problema da violência em decorrência da política, sugerindo que o 'Brasil está doente'.
"Quem é presidente é Jair Messias Bolsonaro ele que tem que cuidar desse ponto, ele que tem que cuidar dessa situação, eu tenho preocupação, é que além da crise de segurança que a gente já tinha que é muito grave, o narcotráfico se espalhou pelo país inteiro, mas tem algo novo que é a tensão dentro do país, temos uma situação que não é só a disputa política, é a realidade de tensão das famílias, no local de trabalho e isso gerando situações de homicídios. O Brasil tá doente, e vamos levar um tempo para curar. Precisa de um gesto do presidente Bolsonaro de reconhecer o resultado das eleições, do jeito que o Fernando Haddad reconheceu, como é que a eleição valeu para ele, para governadores, parlamentares".