Chay Suede se despede de 'Amor de mãe' e diz como a pandemia afetou seu casamento

Vinte quilos e seis anos separam o Chay Suede visto agora como o Danilo de “Amor de mãe” do ator “bem cru” (palavras do próprio), que estreou nas novelas da Globo em 2014, em “Império”. Atualmente com 82kg e 28 anos, o capixaba se despede na sexta-feira de seu trabalho mais maduro, o papel do filho tão procurado por Lurdes (Regina Casé) na história que marcou a estreia da autora Manuela Dias nos folhetins. Mas ele não sairá do ar. Pelo menos pelas próximas duas semanas. No dia 12, estará de volta na primeira fase de “Império”, obra de Aguinaldo Silva, ganhadora do Emmy Internacional de Melhor Novela de 2015, que será reprisada no horário das nove. O ator interpreta o protagonista José Alfredo, personagem que dividiu com Alexandre Nero. “Quase tudo mudou de lá pra cá. Eu me casei. Tive filho, e a qualidade do meu trabalho melhorou”, lista Chay, franco, durante a entrevista feita por meio de videochamada.

O artista, que traz no RG o nome Roobertchay Domingues da Rocha Filho, posou para a Canal Extra no jardim de sua casa, em São Paulo. É nesse espaço (onde foi realizada sua cerimônia de casamento com a atriz Laura Neiva, em 2019) que Chay passou a maior parte do último ano, em quarentena com a família. Lá, vive a vida que desejava desde pequeno. Ensina Maria, sua filha de 1 ano, a nadar na piscina, brinca com seus seis cachorros, cultiva uma horta, malha debaixo do sol, faz churrasco de frutos do mar, e serve, nos fins de semana, o café da manhã na mesa que fica embaixo de um limoeiro. “Sempre sonhei com uma casa com jardim, crianças e cachorros”, destaca.

Quais foram as principais mudanças na sua vida e na carreira nestes seis anos que separam “Império” e “Amor de mãe”?

Quase tudo mudou de lá pra cá. Eu me casei. Tive filho, e a qualidade do meu trabalho melhorou. Fiquei mais velho e mais pesado. Eu devia pesar 62kg quando fiz “Império”. Hoje, peso 82.

Consegue destacar os cinco fatos mais marcantes destes últimos anos?

Na vida pessoal, o meu casamento, no dia 2 de fevereiro de 2019, foi o dia mais importante da minha vida. Assim como o nascimento da minha neném, em 26 de dezembro do mesmo ano. Na profissão, cito “Amor de mãe”, que me permitiu trabalhar com uma turma que eu queria há tempos. Foi uma experiência muito diferente, desde a linguagem, até o papel. Também gostei muito de “Segundo sol” (2018), foi um dos trabalhos mais divertidos que já fiz. Destaco ainda o filme “Rasga coração” (2018), do Jorge Furtado. Cresci assistindo às obras dele. “O homem que copiava” (2003) me marcou.

Como você define o amor de pai?

É infinito, incomparável. É um mundo novo que você acessa, a maior coisa do mundo, transcedental, espiritual. Esperava uma coisa enorme e foi avassalador. Tenho vontade de ter mais filhos.

Chay Suede com Maria, sua filha, de 1 ano
Chay Suede com Maria, sua filha, de 1 ano Foto: Reprodução/Instagram

Em “Amor de mãe”, Danilo não teve uma figura paterna em sua criação. Como é a sua relação com o seu pai?

Eu tive o pai mais amoroso, maravilhoso e presente, que sempre me apoiou. Sempre senti vontade de ser pai para ser parecido com o meu. Os homens não costumam falar sobre isso, mas ser pai sempre foi o meu sonho, desde pequeno.

O seu pai também teve um papel determinante em sua carreira. Você trabalhou com ele no Desafio Alienígena, um labirinto de terror itinerante que era atração em shoppings e parques de diversões…

Além do meu pai, o meu avô, Salu (Salustiano de Paula Rocha) era um grande contador de histórias. O meu pai fazia questão que a gente trabalhasse com ele durante nossas férias. Eu me fantasiava de todos os alienígenas, usava máscaras, para dar sustos nas pessoas. Mas pude cumprir as mais variadas funções nesse trabalho. Eu só entrei no “Ídolos” (reality show da Record, que o revelou, aos 17 anos) porque a gente estava montando um evento num shopping da Zona Norte do Rio. Participei das audições cariocas do programa. Esse espírito do meu pai me impulsionou a cantar no “Ídolos” sem nunca ter cantado para ninguém. Depois atuei em “Rebelde” (2011/12) sem nunca ter atuado.

Como fica a sua carreira musical?

A minha carreira é de ator. É isso que vou fazer para o resto da minha vida. Canto para a minha filha todos os dias, faço música para ela. Nada vai impedir que grave um disco como gravei no ano passado (o EP “O sal”). Já apresentei programa na MTV, faço aulas de cerâmica, de perfumaria. São coisas que estão presentes na minha vida. Mas sou ator.

Thelma (Adriana Esteves) e Danilo (Chay Suede)
Thelma (Adriana Esteves) e Danilo (Chay Suede) Foto: Rede Globo/Divulgação

Thelma (Adriana Esteves) foi superprotetora e sufucou Danilo. Como foi a sua criação?

Danilo ama loucamente essa mãe. Eles foram crescendo juntos, numa simbiose. Esse amor existe, mas é sufocante, claustrofóbico. A relação do Danilo com a Thelma foi fundamentada em mentiras. Já a minha mãe me criou de maneira extremamente livre, para ser do mundo, para amá-la como ela é, sem projeções. Temos uma relação baseada na confiança. Nunca precisei mentir. Ela não me julga por dizer a verdade. Essa maneira se reflete nas minhas outras relações: de homem com esposa, pai com filha…

Danilo é instrospectivo. Qua foi sua maior dificuldade para interpretar o personagem?

Danilo foi muito difícil. É mais fácil quando você pode dar tons aos personagens. Ele é tímido, carrega suas nuances internamente. Foi um trabalho de formiguinha. Mas percebo que o público conseguiu acessar isso.

O público na web observou que Danilo está mais forte e tatuado nesta fase da novela…

Danilo passou por uma mudança de visual ainda na fase anterior. O fato de ter ficado mais forte é uma ilusão de ótica. O que mudou foi o figurino. Antes, eu usava camisa de botão Extra Grande. Passei a usar camiseta M, do meu tamanho. Já havia mostrado algumas tatuagens, mas decidimos deixar todas à mostra durante as gravações feitas na pandemia. Eu demorava horas para tapar e tinha mais contato com as pessoas neste processo.

José Alfredo (Chay Suede)
José Alfredo (Chay Suede) Foto: Alex Carvalho/Rede Globo/Divulgação

Que importância “Império” teve para você?

Foi muito importante. Tive uma projeção interessante com “Rebelde” (2011/12), especialmente com o público jovem. Mas “Império” foi uma novela que me deu uma base nova como ator. Era bem cru, estava engatinhando, e tive o acompanhamento do (preparador de atores) Eduardo Milewicz. Pude estar com ele por quatro semanas e observar seu trabalho com os outros atores também. Por mais que tenha feito poucos capítulos, foi tudo muito intenso, as minhas cenas contavam a saga do personagem. A partir dali, passei a ser cogitado para outros papéis.

De que sente mais saudade quando se lembra da época em que gravou “Império”?

Foram três meses de gravação. Lembro de ter passado por muita coisa. Tive febre local após a cena do tiroteio, em que o José Alfredo era ferido na costela. Estava tão absorvido pela história que o meu corpo entendeu que eu tinha me machucado de verdade. Viajamos para Genebra (na Suíça), foram dias maravilhosos. Também gravamos em Carrancas (MG), que representava o Monte Roraima na novela.

Como foi conviver com a família de forma tão intensa agora na quarentena?

Conviver com a Maria no primeiro ano dela foi um privilégio enorme. Com a Laura, nossa relação foi potencializada. A gente adora a companhia um do outro, fazemos muita coisa juntos. Sei que muitos casais foram afetados, mas com a gente foi o extremo oposto. Fomos para um lugar muito precioso.

Por que quis fazer as fotos no seu jardim?

É aqui que passei a maior parte do tempo neste último ano e meio. Eu e Laurinha nos casamos neste jardim. A Maria já nasceu nessa casa. Muita coisa aconteceu aqui. Laurinha ama cuidar das plantas. Comprei essa casa em 2014, na época de “Império”, por causa desse jardim.

Como você se vê daqui a dez anos?

Eu me vejo com uma família maior, com mais filhos, comemorando 12 anos de casado com a Laurinha. Quero um sítio para ficar com nossa família. E me vejo trabalhando tanto quanto ou até mais.