As internações para cirurgias eletivas (procedimentos não urgentes) caíram 34,7% em 2020 na comparação com 2019, segundo números do DataSUS consolidados a partir das informações enviadas pelas secretarias estaduais e do Distrito Federal para o Ministério da Saúde.
De acordo com os dados do DataSUS (órgão de informática do Sistema Único de Saúde), em 2019, foram realizados 2.668.522 procedimentos contra 1.740.736 no ano passado.
A redução foi motivada pela necessidade de liberação de leitos para pacientes com Covid-19. Com isso, cirurgias oftalmológicas, ortopédicas e pediátricas, dentre outras, ficaram acumuladas mesmo com a liberação parcial dos procedimentos em algumas regiões.
Os estados que mais registraram queda nas internações para cirurgias eletivas foram Piauí (56%), Tocantins (55%), Espírito Santo (53%) e Paraná (46%).
Somente um estado registrou alta na realização de internações para procedimentos eletivos no ano — o Acre, com alta de 1,67%.
O Piauí ainda mantém suspensas as cirurgias eletivas ambulatoriais, ao menos até a próxima semana.
“A gente reforça a intenção, de junto com a sociedade, construir comportamentos de prevenção, como o uso de máscara, álcool em gel, que não tenha aglomeração. Porque a gente não quer que cresça o número da demanda por cirurgias [esperando para serem liberadas]”, diz o secretário de saúde do estado, Florentino Neto.
Atualmente, a fila no Piauí é de cerca de 3,7 mil cirurgias gerais, 2,3 mil ortopédicas, 1,6 mil oftalmológicas e 1,4 mil pediátricas.
No Espírito Santo, as cirurgias eletivas ficaram paralisadas entre março e agosto. A estimativa da Secretaria de Saúde é de que 4 mil deixaram de ser realizadas por mês nesse período.
A maior preocupação é em relação à oftalmologia, uma das especialidades que mais pressionam o Sistema Único de Saúde (SUS).
A secretaria tenta contornar o problema ampliando acesso a cirurgias de média complexidade em oftalmologia em mais regiões do estado, a fim de conseguir ampliar o acesso aos serviços.
César Neves, chefe de gabinete da secretaria de saúde do Paraná, afirma que a decisão de interromper cirurgias eletivas foi necessária.
“[Foi] uma estratégia acertada de priorizar leitos tanto de enfermaria quanto de UTI para o tratamento de pacientes com Covid-19]”, diz.
Segundo ele, as restrições estão sendo flexibilizadas pouco a pouco, a partir da avaliação da lotação dos hospitais.
“Nossa resolução [com restrições para cirurgias eletivas] acabou em 31 de janeiro. Os hospitais podem agora, dentro de um ritmo plausível e dentro de um cenário possível, retomar. [Mas] os nossos insumos de anestésicos ainda têm que ser usados com bastante parcimônia.”
Especialistas apontam que 2021 será um ano de muita pressão sobre o sistema de saúde em razão do acúmulo deixado por 2020.
“Temos um grupo de pacientes que é sempre muito alto e vamos ter uma sobrecarga maior ainda, com os pacientes deste ano e os que sobraram do ano passado por não terem conseguido fazer”, afirma o médico Luiz Carlos Von Bahten, presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC).
Von Bahten ainda afirma que a melhor expectativa é a da aceleração da vacinação.
“Quanto mais a pandemia se agrava, menos você tem condições de trazer o paciente eletivo para o hospital. Só com a vacinação poderemos diminuir as internações da pandemia e voltar a realizar as cirurgias eletivas.”
Em um cenário otimista de controle da pandemia ainda em 2021, a expectativa é que a espera por cirurgias eletivas volte ao patamar pré-pandemia em mais um ano.
“A previsão para que a gente consiga resolver o acúmulo é de, pelo menos, mais um ano. Provavelmente só em 2022 a gente consegue chegar a uma normalidade”, declara Von Bahten.
Fonte: G1