“Por 2 cm eu não morri”, diz jovem esfaqueada pelo ex no bairro Promorar

A jovem identificada como Sara Laís de Sousa Matos, de 22 anos, que foi esfaqueada no pescoço na última quarta-feira, 13 de julho, dentro da própria residência no bairro Promorar, na zona Sul de Teresina, prestou depoimento na manhã desta segunda-feira (18) na Delegacia Especializada em Feminicídio, na sede do DHPP, em Teresina. 

Seu ex-namorado identificado como José Duarte foi preso acusado de cometer o crime. O casal tem uma filha de 1 ano que presenciou todo o fato. Em entrevista ao repórter Matheus Oliveira, da Rede Meio Norte, a jovem, que trabalha como social media, relatou como tudo aconteceu. 

“Nossa filha estava presente, viu tudo, ela não chorou, mas ficou observando. Eu acho que no momento a pessoa não pensa nos detalhes, tão tal que teve momentos que ele caiu em si e se perguntou: ‘Minha filha, o que vai acontecer com a minha filha? quem que vai cuidar da minha filha? Porque a intenção era me matar e se matar”, declarou.

SEM DISCUSSÃO

Segundo a jovem, não houve discussão nos momentos que antecederam o crime. “Não houve briga em nenhum momento, na verdade a gente nunca brigou de levantar a voz, não foi nesse momento que a gente ia brigar de se bater, de se arranhar, de se empurrar, de chutar. Ele entrou na minha casa com uma terceira chave, eu tinha conhecimento de duas chaves que inclusive atualmente estão comigo, mas uma terceira chave para abrir a minha porta eu não tinha conhecimento”, informou ela que acrescentou que a faca usada no crime pertencia a ele: “A faca pertencia a ele, era do cabo preto e a minha faca tem o cabo branco, significa que ele já entrou armado”, pontuou.

“Não sei explicar o que passou na cabeça dele, só ele vai saber. Ele nunca levantou a voz, nem pra me chamar de feia, ele me dava tudo que eu queria, era muito amoroso, muito paciente com tudo. Depois que a gente terminou foi tranquilo, a gente ia para o shopping com a nossa filha, de compartilhar momentos, dele levar almoço para mim, de me ajudar com quantia em dinheiro porque eu estava precisando”, afirmou.  

ACUSADO LEVOU A JOVEM PARA A UPA

De acordo com Sara, o próprio José Duarte foi quem a levou para a UPA depois de esfaqueá-la. “Foi ele que me levou para a UPA, foi mais de uma hora a gente negociando, eu falando para ele que se ele me levasse para a UPA ainda na madrugada ia passar menos despercebido, porque no final das contas eu queria o bem dele, mas ele queria me levar só de manhã. Eu já estava agonizando, derramando muito sangue. Depois de um tempo eu convenci ele de me levar naquele momento, disse que a nossa filha ia ficar de manhã mais desamparada ainda do que se fosse a noite ele levando ela para a casa da vó dela”, disse. 

“Já estou seguindo em frente, inclusive quando eu sai do carro, quando ele me deixou na UPA eu disse: ‘você está perdoado’. Eu acho que ele não estava com o discernimento de não ter acabado, é ter acabado e pegar as coisas saudáveis e seguir, eu segui pegando as coisas saudáveis, ressignifiquei e segui. Ele talvez tenha pegado as piores coisas e levou para o outro lado, porque o que ele me perguntava é o que poderia ter mudado, o que podia ter feito, o que eu não fiz”, contou. 

MOTIVO DO TÉRMINO

Ainda em entrevista, Sara Lais informou o motivo do término do casal que ficou durante 9 anos juntos e estavam separados há dois meses. “Não tinha mais amor, eram dois amigos dentro de casa, inclusive no dia que a gente se separou foi a frase que a gente usou: ‘a gente é amigo né?’ ai no dia seguinte ele pegou as coisas dele, eu estava no trabalho, quando eu cheguei do trabalho ele já tinha levado as coisas dele e tinha saído de casa”. 

"NÃO DESEJO QUE FIQUE PRESO"

Sobre o que deseja para o seu ex-companheiro, a jovem relatou: “Eu não sei como ele está, mas a família dele já compartilhou comigo que está difícil, eu não sei se ele está no momento de pegar o que ele já viveu e seguir de forma positiva, ou se ele vai cair na negatividade e vai se destruir de vez, porque tudo que ele tinha ele destruiu, ele era maravilhoso tinha emprego, família, amigos, ia para a igreja, era uma vida perfeita, mas eu espero que ele aprenda, tenha um acompanhamento psicológico porque eu tenho certeza que a principal coisa que levou ele a fazer  o que ele fez foi não estar muito certo do juízo. Em nenhum momento eu desejo o mal que ele fique preso para sempre, que ele sofra na cadeia, inclusive eu me preocupo muito com isso”, declarou. 

“Eu estou muito bem de saúde inclusive, estou super positiva, só lembro da oportunidade de sobreviver, porque como a médica disse foi por 2cm que eu não morri”, finalizou.