O colunista Léo Dias relata que dezembro, andando em um shopping do Rio, foi abordado por um rapaz que se dizia amigo de uma amiga de Gugu Liberato. Ele relatava a intenção de todos os amigos de Gugu de que a verdade aparecesse e de que o mundo tomasse conhecimento de quem era Thiago Salvático, companheiro do apresentador. Naquele momento, me foi entregue uma foto do casal (algo raríssimo de se ver) e o telefone de contato de Thiago, na Alemanha, onde ele vive. A partir daquele momento, eu institui como meta desvendar quem era o tal Thiago e entrevistá-lo.
Só que eu não imaginava tamanha resistência. Ele respondeu de maneira evasiva o meu primeiro contato e, a partir daí, foram meses de silêncio.
Eu mandava mensagens quase que semanalmente. Ele lia (aparecia a confirmação de visualização no aplicativo WhatsApp) e me ignorava. E assim foi, durante meses. Mas eu não desisti. E ele percebeu isso, disse o colunista.
Thiago, hoje com 32 anos, nasceu em Criciúma (SC), mas cresceu em Forquilhinha (SC). Formado em Gastronomia pela Food Genius Academy (Milão, 2013), ele fala fluentemente inglês, italiano, alemão, francês e espanhol. É dono de duas sorveterias na cidade de Paderborn, na Alemanha. E foi de lá que ele respondeu, pela primeira vez na vida, a uma entrevista sobre Gugu Liberato.
Falou com exclusividade Coluna do leo Dias sobre o relacionamento de ambos, sobre as viagens que faziam juntos e sobre a ação que move na Justiça brasileira pelo reconhecimento de união estável homoafetiva com Gugu.
Leo Dias – Enquanto a Rose Miriam e a família de Gugu Liberato já se enfrentavam na TV, por que você demorou para entrar nessa briga e se manifestar?
Thiago Salvático – Não acho que tenha demorado. Precisei primeiro respeitar o meu luto. Foi muito difícil dar prosseguimento à minha vida depois do dia 21 de novembro. Alternava dias normais com dias muito ruins. Logo após o falecimento do Gugu, a minha irmã e o meu cunhado vieram morar aqui na Alemanha para me dar suporte emocional e me ajudar a dar continuidade ao meu trabalho e aos meus negócios. Os meus advogados me pediram para escrever em detalhes a minha história com o Gugu, do primeiro ao último dia. Tinha momentos em que eu não conseguia escrever por lembrar de tudo o que passamos juntos. O vazamento da petição inicial da ação —com quebra de segredo de Justiça— à imprensa expõe a minha intimidade. Sou julgado por pessoas que não me conhecem e nada sabem da minha história com o Gugu. Sou obrigado agora a me manifestar e a expor a minha versão dos fatos. Os meus advogados já estão tomando as providências para a proteção dos meus direitos.
Você mora na Alemanha e Gugu morava no Brasil. Como conseguiram manter o relacionamento durante todos estes anos?
Quando conheci o Gugu em 2011, eu morava na Itália. Mudei definitivamente para a Alemanha em 2014. Apesar da distância, nós sempre mantivemos um relacionamento muito sólido e próximo. Eu viajei muito ao Brasil durante esse período para nos encontrarmos. Ele também me visitava na Alemanha. E realizamos diversas viagens juntos pelo Brasil e pelo mundo. Não medíamos esforços para nos encontrar. As pessoas estranham e perguntam: como é possível manter um relacionamento a distância? Mas para mim isso apenas mostra a força do nosso relacionamento. E também é preciso entender a dinâmica de vida do Gugu. Ele se dedicava à mãe, aos irmãos, aos filhos em Orlando e a mim. Quando estava envolvido em gravações, tinha pouco tempo livre.
Gugu, em vida, não assumiu publicamente a homossexualidade. De que forma isso interferiu no relacionamento mantido por vocês?
Esse tema é muito sensível, Leo. As razões que levaram o Gugu a preservar a intimidade e a privacidade dele estão muito bem explicadas na ação. O local apropriado para essa discussão é a Justiça. Quanto ao nosso relacionamento, desde o início ele deixou claro que deveríamos nos preservar. O que não significa dizer que vivíamos de forma secreta ou escondida. Muito pelo contrário. As pessoas mais próximas ao Gugu, com exceção dos filhos e da mãe dele, me conheciam. Gugu era muito reservado. Viajávamos juntos, ficávamos no mesmo quarto, fazíamos as refeições e os passeios juntos. No Brasil, eu também andava ao lado dele e frequentava todas as residências na condição de companheiro. Mas essa decisão de preservar a intimidade o impedia de abordar esse assunto livremente junto aos filhos, ao irmão, à mãe, aos fãs e à imprensa.
Você entrou com ação para provar que era companheiro de Gugu Liberato. Em testamento, Gugu Liberato deixou 75% da herança aos filhos e 25% aos sobrinhos. Como você interpreta o fato de não ter sido incluído no testamento?
Quando o Gugu fez o testamento, em 2011, ele não me conhecia. Existe aí uma questão jurídica para advogados e para o juiz, mas o fato de eu não constar no testamento de 2011 não retira a minha condição de herdeiro, como companheiro. Eu sei o papel e a importância que tive na vida do Gugu. O nosso relacionamento só terminou em razão do falecimento dele. A minha pretensão é legítima. Eu tenho a obrigação de defender a nossa relação e a verdade. Apresentei muitos documentos na ação. Também juntei parecer jurídico elaborado pela dra. Maria Berenice Dias, uma das maiores autoridades em direito homoafetivo no Brasil. Confio que a Justiça reconhecerá a união estável que mantive com Gugu.
Gugu era feliz?
Como todo ser humano, ele tinha momentos de alegria e de tristeza. O Gugu, que eu conheci na intimidade, era uma pessoa diferente do apresentador. Na TV, ele mantinha uma energia incrível e contagiava a todos com muita alegria. Eu brincava com ele: você não é o mesmo cara da TV. Ele sempre ria do meu comentário. Na intimidade ele era divertido e carinhoso, mas, em muitos momentos, ficava sério, reflexivo e preocupado, com coisas como a performance do programa, audiência, patrocinadores, renovação de contratos, como que inovar, negócios, produtora, criação e educação dos filhos, saúde da mãe, etc. A necessidade de preservação da intimidade e da privacidade também contribuía para momentos de angústia e tristeza. Conversávamos muito sobre isso. Quando estávamos juntos, posso declarar com muita tranquilidade e segurança que ele era feliz.
Como você definiria Gugu Liberato?
A lembrança que guardo do Gugu é a de uma pessoa correta, divertida, educada, gentil e carinhosa. Ele era, antes de tudo, um gentleman. Era reservado, desconfiado com quem ele não conhecia bem e tinha poucos amigos. Era muito inteligente e workaholic. Um filho que fez de tudo pelos pais e um pai apaixonado pelos filhos. Curioso por novidades, ele adorava conhecer novos lugares e culturas diferentes. Um companheiro que transmitia muito amor e que contribuía para o meu crescimento pessoal. Era muito observador e por isso sabia agradar as pessoas ao seu redor. Era simples na essência e não ficou deslumbrado pelo sucesso que conquistou.