O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu recados ao país e a seus eleitores nos dois discursos da posse para seu terceiro mandato, neste domingo (1º).
O primeiro, no Congresso Nacional, criticou sem mencioná-lo diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL); o segundo, no parlatório em frente ao Palácio do Planalto, enfatizou o combate à fome como objetivo principal do novo governo.
Pela terceira vez compareço a este Congresso Nacional para agradecer ao povo brasileiro o voto de confiança que recebemos. Renovo o juramento de fidelidade à Constituição da República, junto com o vice-presidente Geraldo Alckmin e os ministros que conosco vão trabalhar pelo Brasil. Se estamos aqui, hoje, é graças à consciência política da sociedade brasileira e à frente democrática que formamos ao longo desta histórica campanha eleitoral. Foi a democracia a grande vitoriosa nesta eleição, superando a maior mobilização de recursos públicos e privados que já se viu; as mais violentas ameaças à liberdade do voto, a mais abjeta campanha de mentiras e de ódio tramada para manipular e constranger o eleitorado. Nunca os recursos do Estado foram tão desvirtuados em proveito de um projeto autoritário de poder. Nunca a máquina pública foi tão desencaminhada dos controles republicanos. Nunca os eleitores foram tão constrangidos pelo poder econômico e por mentiras disseminadas em escala industrial. Apesar de tudo, a decisão das urnas prevaleceu, graças a um sistema eleitoral internacionalmente reconhecido por sua eficácia na captação e apuração dos votos. Foi fundamental a atitude corajosa do Poder Judiciário, especialmente do Tribunal Superior Eleitoral, para fazer prevalecer a verdade das urnas sobre a violência de seus detratores. Logo na abertura, Lula fez duras críticas a Bolsonaro e à conduta agressiva do adversário na corrida eleitoral, com o uso da máquina pública para beneficiar sua candidatura à reeleição, com pagamento de bônus no Auxílio Brasil e liberação de benefícios para categorias. Também se referiu aos casos de assédio eleitoral e à rede de fake news que o atingiu. O petista reforçou ainda a mensagem de que seu retorno ao Planalto era a vontade de uma frente ampla de partidos e da sociedade para salvar a democracia das ameaças autoritárias de Bolsonaro. Queridos amigos e amigas, Ao retornar a este plenário da Câmara dos Deputados, onde participei da Assembleia Constituinte de 1988, recordo com emoção os embates que travamos aqui, democraticamente, para inscrever na Constituição o mais amplo conjunto de direitos sociais, individuais e coletivos, em benefício da população e da soberania nacional. Vinte anos atrás, quando fui eleito presidente pela primeira vez, ao lado do companheiro vice-presidente José Alencar, iniciei o discurso de posse com a palavra "mudança". A mudança que pretendíamos era simplesmente concretizar os preceitos constitucionais. A começar pelo direito à vida digna, sem fome, com acesso ao emprego, saúde e educação. Disse, naquela ocasião, que a missão de minha vida estaria cumprida quando cada brasileiro e brasileira pudesse fazer três refeições por dia. Ter de repetir este compromisso no dia de hoje —diante do avanço da miséria e do regresso da fome, que havíamos superado— é o mais grave sintoma da devastação que se impôs ao país nos anos recentes.