O ex-assessor do deputado federal André Janones (Avante-MG) Fabricio Ferreira de Oliveira vai apresentar uma ação à Procuradoria-Geral da República (PGR) e à Polícia Federal (PF) para que seja realizada uma acareação entre ele e o parlamentar sobre a investigação de eventual prática de rachadinha. O congressista nega as acusações. A acareação é uma espécie de confronto de versões entre as partes envolvidas em um processo.
Nesta semana, foram divulgados áudios que revelam que o parlamentar organizou um esquema de rachadinha, em que parte do salário de servidores seria utilizada para pagar despesas de campanha. A gravação é de 5 de fevereiro de 2019 e foi feita pelo jornalista Cefas Luiz durante a primeira reunião após os funcionários tomarem posse.
Cefas contou à reportagem que "o esquema rodou no gabinete e era mensal". A verba seria usada para cobrir um suposto rombo de R$ 675 mil nas contas pessoais do político, que afirma ter precisado vender casa e carro e usado o dinheiro de poupança e previdência para bancar a corrida eleitoral.
No áudio, o deputado diz que daria salários maiores a alguns servidores para que esses valores extras pudessem ser devolvidos a ele como forma de "ajudar a pagar as contas do que ficou da campanha" de Janones para a Prefeitura de Ituiutaba (MG). "Meu patrimônio foi todo dilapidado. Eu perdi uma casa de R$ 380 mil, um carro, uma poupança de R$ 200 mil e uma previdência de R$ 70 mil", detalhou.
O deputado é alvo de pedidos de apuração do crime de caixa 2. O motivo é a diferença entre a afirmação do próprio parlamentar sobre prejuízos financeiros com a campanha para a prefeitura da cidade mineira, em 2016, e o montante declarado à Justiça Eleitoral. Para justificar o pedido de parte do salário de servidores a fim de bancar despesas eleitorais, Janones disse ter gastado R$ 675 mil. No site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a declaração oficial é de R$ 200.566,44 com despesas de campanha.
Um áudio obtido pelo R7 mostra um ex-assessor de Janones alegando que precisava repassar quase R$ 5.000 do próprio salário mensalmente no suposto esquema de rachadinha no gabinete do parlamentar. A gravação, feita por Oliveira, faz parte de uma manifestação protocolada em 2021 no Ministério Público Federal, que denunciou o crime.
Sem saber que estava sendo gravado, o ex-assessor Alisson Camargos confessa: "Quase R$ 5 [5.000] conto que eu passo para ele [Janones], Fabricio. Nem R$ 9.000 eu estou tirando. R$ 9.000, assim, no papel, entendeu?". Camargos diz também que o esquema demonstra que eles não são amigos do parlamentar. "Nós somos funcionários", completa.
Responsável pela gravação, Fabricio Ferreira contou à reportagem que o esquema era mensal e que, no caso de Camargos, "ele repassava R$ 5.000 de um salário de R$ 9.000, aproximadamente 60% do salário". Ferreira também afirma que outras pessoas precisariam fazer os repasses para Janones e que quem articulava o recebimento, em espécie, era a então assessora, Leandra Guedes (Avante), atual prefeita de Ituiutaba.
Em resposta, Janones nega ter praticado rachadinha e afirma que a gravação foi "clandestina e criminosa" e se trata de um "áudio retirado de contexto e para tentar imputar [a ele] um crime" que ele "jamais" cometeu. "Essas denúncias vazias nunca se tornaram uma ação penal ou qualquer processo, por não haver materialidade. Não são verdade, e sim escândalos fabricados", completa.